A crise quase insanável por que passa o Partido Socialista Operário Espanhol - que significará a iminente pasokização nas terceiras eleições legislativas desde o fim do mandato do governo Rajoy! - é o resultado da sua social-democratização forçada por indicação de Felipe Gonzalez.
Infelizmente uma das causas do declínio dos partidos socialistas europeus tem sido o verem-se liderados por quem não é socialista e até tem vergonha de o ser, como se passa com Manuel Valls em França.
Julgando-se ainda nos tais Trinta Anos Dourados, que possibilitava a expetativa de ser eternamente possível uma sociedade de bem-estar, os dirigentes da maior parte desses partidos não soube encontrar alternativa ao fim das politicas redistributivas pelas quais as gerações sucessivas iam julgando que as seguintes encontrariam lugar no ascensor social.
As crises financeiras e económicas dos últimos trinta anos, a globalização e a queda do muro de Berlim (com o desaparecimento do contrapeso ideológico daí oriundo, mesmo mais mítico do que real!) deixaram os sucessores de Willy Brandt ou de Mitterrand sem resposta eficaz. Blair, acolitado por Giddens, ainda apostou na Terceira Via, mas ela mais não era uma versão das estratégias governativas da direita, moderando-lhe os excessos propiciadores de maior desigualdade.
Qual o tipo de programa que os sociais-democratas podem hoje oferecer numa altura em que não possuem a condição fundamental - o crescimento económico - que lhes garantiria substância às suas políticas?
A única exceção de um Partido Socialista europeu, que está a mostrar uma via alternativa bem sucedida é o português com o seu acordo parlamentar envolvendo os demais partidos da esquerda. Tendo em conta a radicalização pró-privatizações e anti-regulamentação da Economia e das Finanças, as esquerdas têm bastante mais em comum do que no que possam divergir.
Infelizmente a inteligência de António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins não encontrou paralelo no país vizinho. Pedro Sanchez, porque foi eleito pelas bases nas Primárias e nunca se livrou do desprezo dos barões, e Pablo Iglésias cuja ambição pessoal se sobrepõe ao interesse coletivo dos compatriotas, deitaram a perder a oportunidade histórica de alargar a toda a Península Ibérica, uma concertação estratégica de todas as esquerdas.
Para Sanchez o tempo corre em seu desfavor como se constata nas sucessivas derrotas eleitorais, que vem conhecendo. Como mal menor talvez se justificasse seguir o que querem os barões ligados a Gonzalez, fazendo uma cura de oposição exigente a Rajoy, mas recusando liminarmente o recentramento político, que lhe retiraria ainda mais a consonância com a sua identidade histórica. E apenas por, ao contrário de António Costa, não ter as condições objetivas para continuar a sabotar as tentativas de Rajoy para formar governo.
Às vezes faz sentido recuar um passo para dar dois em frente, e quem o disse foi um superlativo tacticista político. É pena que Sanchez não o esteja a compreender.
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