A manchete do «Diário de Notícias», que limita o alcance do tão falado imposto sobre o património imobiliário dos portugueses a menos de 1% dos contribuintes constitui o mais eloquente desmentido do discurso catastrofista assumido pelos políticos da direita e pelos comentadores televisivos a eles enfeudados.
Se eles são classe média num país onde quase metade da população tem vencimentos pouco acima do salário mínimo e em que a média de rendimentos per capita está muito distante dos mil euros, como foi possível manter por tantos dias uma narrativa, que levava os mais ingénuos habitantes dos bairros sociais a temerem que os funcionários do fisco lhes viessem bater à porta?
O que esteve uma vez mais em causa foi a capacidade dos opositores do governo em retirarem do contexto as afirmações de políticos da maioria parlamentar - de Centeno a Mariana Mortágua - para, distorcendo-as convenientemente de acordo com os seus interesses, criarem um autêntico alarme público como se estivesse iminente um novo aumento de impostos.
Do que já se sabe a respeito da carga fiscal para o próximo ano - e um relatório da Comissão Europeia confirma-o! - é que se prepara um desagravamento global da massa tributária. Mas com vantagem imediata para as classes mais desfavorecidas, tendo em compensação um maior agravamento para as mais abonadas.
Mas que órgão de informação consegue ser minimamente honesto para reconhecer essa perspetiva?
Como se viu com José Gomes Ferreira na edição da noite da SIC Notícias, mesmo quando desmascarado, o jornalismo tendencioso ali praticado insiste na mentira sem apresentar fundamentos minimamente sustentados. Terá julgado que respondia ao desafio de João Galamba que, um quarto de hora antes o desafiava a reconhecer o erro, mas torna-se cada vez mais evidente a sua falta de honestidade à luz do código deontológico da profissão, que só vai cuidando de denegrir.
Ao contrário de outros tempos em que olhávamos para as notícias e víamo-las enunciadas por jornalistas respeitados, que nos abriam expetativas para que chegassem à dimensão ética de um Walter Conkrite ou de um Edward Murrow, temos agora nos ecrãs gente intencionalmente zarolha.
Esperando que esta maioria parlamentar dure por muitos anos, caber-lhe-á, mais tarde ou mais cedo, abordar com frontalidade a questão da comunicação social, impedindo-a de constituir monopólio de um setor muito restrito da sociedade, que dela faz arma eficiente ao serviço dos seus interesses empresariais. A exemplo do que deverá vir a ser uma televisão pública, cujos padrões de objetividade ainda deixam muito a desejar, importa criar as condições para viabilizar um jornalismo verdadeiramente independente, nomeadamente replicando o que foi a saudosa experiência cooperativa dos fundadores de «o jornal».
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