Às vezes gosto de imaginar o que irá na cabeça de quem detém o poder e subitamente o começa a ver esvair-se em circunstâncias, que não cessam de ser adversas. Merkel é, nesse sentido, um autêntico caso de estudo. Até há pouco tempo quase parecia uma imperatriz à escala europeia a quem uns serviam com muito respeitinho (Passos & Cª) e outros silenciando os seus remoques inconsequentes. Agora não parece ter outro discurso, que não seja o de estarmos numa situação europeia muito crítica desde que o Brexit prevaleceu em terras de sua majestade.
A crise dos refugiados iniciou o principio do fim da carreira política da chanceler, que hoje parece agir como uma barata tonta à procura de referências por que se possa guiar. A decisão inicial de acolher todos quantos atravessavam o Mediterrâneo e escolhiam as terras germânicas como seu prometido eldorado, fazia todo o sentido tendo em conta a crise demográfica ali evidente, mas começou a dar armas aos eurocéticos para vestirem outra farpela mais vistosa (porque mais demagógica!) e retirar-lhe significativas parcelas de eleitorado.
Por outro lado, a nível externo, se conta com os holandeses e os finlandeses para prosseguir o guião austeritário, consegue alienar o apoio francês, que juntando-se aos países do sul, bradam contra essa mesma receita por muito que Schäuble os designe de «pouco inteligentes» - como se a evidência dos factos e dos números não tivesse demonstrado que a paralisia que obriga o ministro alemão a deslocar-se em cadeira de rodas é capaz de ser bem mais grave nos miolos do que nas pernas.
E se, de mão dada com Juncker, desejaria dar gás ao PPE para marginalizar os socialistas e os sociais-democratas, descobre-se isolada de tais parceiros que, no grupo de Visegrado, conjugam o que de mais execrável pode haver na política europeia e justificou a mais do que razoável exigência de um ministro luxemburguês quanto à expulsão da Hungria.
Será nesse total atordoamento, que ela anda a promover a candidatura de uma búlgara ao lugar de secretário-geral das Nações Unidas e a querer que todos os demais países da União Europeia a sigam em tal opção.
Apesar das garantias dadas ao governo português em como não se oporia a António Guterres, ela não parece ter o discernimento bastante para compreender que, mais do que contar com uma correligionária num cargo essencial para a promoção da paz nos tempos mais próximos, está a sabotar intencionalmente a possibilidade de vitória do político mais capacitado para tal função. E se tal suceder será mais uma das razões para a desejar ver humilhantemente derrotada nas eleições alemãs do próximo ano. Assim saiba o SPD conseguir o que até agora não tem sido capaz: concentrar em si as esperanças dos seus concidadãos, que desejam uma outra política sem os preconceitos da atual chanceler e sem as hediondas propostas da extrema-direita. No fundo pede-se que se replique ali a lusa Geringonça com os Verdes e o Die Linke.
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