Com um ano de atraso vi o documentário de Ben Lewis sobre o grande ataque ao sigilo bancário suscitado pela divulgação de parte significativa dos 100 gigabytes de dados copiados por Hervé Falciani da instituição bancária suíça onde entrara oito anos antes, a HSBC.
Não fiquei convencido da bondade das intenções de Falciani, quando avançou com o seu plano: em vez de «lançador de alerta», mais pareceu um «empreendedor» apostado em fazer dinheiro com esses conteúdos. Terá sido preciso deparar com a recusa dos potenciais clientes em comprarem-lhe o produto, que ele se reciclou em combatente contra o capitalismo selvagem. Mas, mesmo na sua ambígua sinceridade de propósitos, conseguiu abalar a credibilidade e a propria estabilidade do 2º maior banco internacional e causar calafrios em milhares de clientes de todas as latitudes, que tinham encontrado na Suíça o abrigo para os avultados montantes de dinheiro sonegados ao fisco dos respetivos países.
Se vantagem houve nesta fuga de informação foi ficar plenamente demonstrado o carácter criminoso da grande maioria dos que possuem grandes fortunas. Só essa realidade justificaria a posição de Mariana Mortágua quando esta semana propôs aumentar os impostos nos que estão a conseguir poupar dinheiro. Não obviamente as pequenas poupanças, mas decerto essas fortunas obscenas, que continuaram a crescer mesmo nos anos da crise, e produto de negociatas especulativas ou de mero esbulho de setores outrora sob domínio público, e entretanto entregue a privados para se locupletarem com as enormes mais valias. Uma oportunidade de grandes negócios em que contaram com o ex-secretário de Estado Sérgio Monteiro como zeloso defensor dos seus ínvios interesses.
Ao contrário do que a direita tenta impor como ideia comum, ser muito rico é imoral. Não há fortuna, que não tenha a justifica-la uma qualquer forma de roubo como já defendia Proudhon no século XIX. Por isso faz todo o sentido incidir neles o punho mais firme da fiscalidade para que se possa poupar essa incidência nos que têm pouco mais do que o necessário para irem sobrevivendo.
Quem é o ingénuo capaz de acreditar que alguém consegue meio milhão de euros à custa de trabalhar e poupar muito? Só palecos acreditam em tal alarvidade… e no entanto, desde António Barreto a Rui Moreira, passando por todo o lobby imobiliário, andámos dias e dias a ouvir uma grosseira manipulação da opinião pública a tal respeito.
No filme diz-se que 8% da riqueza mundial está acobertada em paraísos fiscais, aparentemente pouco em percentagem, mas, na realidade ascende a milhões e milhões de euros escamoteados das economias reais, contribuindo assim para a sua estagnação.
Combater o sigilo bancário é só mais uma etapa da incessante luta contra a fraude fiscal, que penaliza a classe média ao ver-se obrigada a pagar os impostos, que caberiam por direito aos mais ricos.
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