Agora que já estão ultrapassados os condicionalismos que me distraíram do teatro do mundo durante uns quantos dias, a ele volto procurando entender os elos de causa e efeito, que não conseguira estabelecer.
Um deles teve a ver com a questão de haver ou não segundo resgate, com manchetes do Finantial Times e declarações de Mário Centeno à mistura, ao mesmo tempo que o mui respeitado Stiglitz recomendava a nossa saída negociada do euro.
O ceticismo do Prémio Nobel norte-americano tem-me contagiado progressivamente à medida que vou lendo os seus argumentos e os de outros reputados conhecedores daquilo que andam a falar, ao contrário dos numerosos opinadores capazes de se mostrarem arrogantes na sua ignorância ao vilipendiá-los.
Esta União Europeia está longe de ser aquela que me chegou a entusiasmar nos anos 80. Então era impensável encontrar nela gente tão sinistra como o húngaro Orban ou o sobrevivente dos gémeos Kaczyński, na Polónia. Como seria inaceitável que um país como a Alemanha detivesse excedentes de 9% na sua balança comercial, enquanto os países do Sul penam em conseguir equilibra-la com a canga acrescida dos juros da dívida.
A única reserva que se pode colocar às declarações de Stiglitz é fazer o diagnóstico a partir da constatação da impossibilidade de se alterar o Pacto de Estabilidade e Crescimento. No que quase todos os factos recentes lhe parecem dar razão: só agora decididos a tentar unir as suas fracas forças, os países do Sul deverão infletir o rumo dos últimos anos por muito que isso cause profundo desagrado ao sr. Schäuble. Mas este, como advogado que é, não tem a capacidade de entendimento necessária para intuir o que todos os economistas da área macroeconómica (menos Cavaco, mas esse é um caso à parte em termos de competências e conhecimentos!) já compreenderam: se pode haver alturas em que a focalização nas políticas monetárias resultaram, elas sempre se verificaram em contextos de crescimento global das economias. Ora, quando a economia europeia está anémica e a mundial a perder o gás dado outrora pelos BRIC’s, só políticas orçamentais orientadas para o crescimento darão resultado. Esta evidência ainda não ganhou força no seio dos encontros do ECOFIN - será necessário começar por remover Dijsselbloem da sua liderança! - mas lá virá a acontecer. E o sinal mais contundente dessa mudança iminente residiu na derrota dos que pretendiam sancionar Portugal e a Espanha de acordo com o procedimento dos défices excessivos.
Nesta altura a economia portuguesa padece de problemas estruturais, que levarão muitos anos a debelar. Nas suas sempre excelentes intervenções no programa «Números do Dinheiro» (RTP), Ricardo Paes Mamede apresentou um gráfico eloquente sobre a razão porque estamos sempre condenados a endividar-nos mais e mais: nele constatamos que a dívida externa aumenta tanto mais quanto for obsoleta a estrutura produtiva.
Por isso mesmo, e ao contrário do que Crato quis impor nas politicas educativas dos últimos quatro anos ou o sempre surpreendente (no pior sentido!) Daniel Bessa defendeu nas Jornadas Parlamentares do PSD, a solução do país está nos esforços governativos, que Mariano Gago sempre emblematizou, de aumento significativo das competências e qualificações do Capital Humano nacional.
Quando Passos Coelho ganha pose marialva a dizer que rejeita quaisquer acordos com António Costa temos de perguntar-lhe se ele já deu por a tal ter sido por este último convidado. É que a direita continua a apostar num país no diminutivo, como satirizava Alexandre O’Neill, onde o respeitinho (pelas Merkel, pelos Schäuble, etc) fosse «bonito». Ora, as esquerdas sabem bem demais que é na irreverência, na capacidade de dizer Não! a tais figurões que o país se dignifica. E que só com jovens licenciados e adultos requalificados é que a Economia tenderá a empurrar o país para o quadrante mais à direita e acima da linha de referência do gráfico de Paes Mamede. É por isso mesmo que Passos Coelho é já passado bolorento e António Costa representa um futuro em construção.
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