Tenho a sorte de contar com um bom estômago. Por isso a disposição para ver programas participados por gente com quem antipatizo não é tanto uma questão de temer uma indigestão, mas de paciência ou de falta de disponibilidade. Perdi por isso o programa em que o ministro da Economia, o “tímido e apagado” Caldeira Cabral deu uma tareia achincalhante no entrevistador do «Negócios da Semana» na SIC. Há quem comente que quem julgava ir para a tosquia de um inocente saiu de cena bastante tosquiado.
Nós já sabíamos, que apesar do seu descaramento, e até ambição desmedida, o referido locutor sabe tanto de economia e finanças como qualquer curioso, que se põe a ler um daqueles livros para totós e fica convencido de se ter transformado numa sumidade. Quem viu parece que se deleitou com a atrapalhação do sujeito a contas com a labiríntica confusão que lhe ia na mente.
Da mesma forma, que perdi essa oportunidade para me divertir, também conto não perder um minuto na iminente entrevista que o jornal da SIC vai fazer ao juiz Alexandre, algo de inaudito na imprensa televisiva. A que respeito merece um mero juiz de instrução a deferência de ocupar horário privilegiado na televisão de Balsemão?
Se começarmos a juntar as sucessivas pontas talvez não seja difícil compreender: está-se a uma semana do prazo limite que o Ministério Público se impôs para decidir o que fazer quanto ao caso que inventou para destruir politicamente José Sócrates. Por isso mesmo não admira a “coincidência” de, na mesma semana, acontecer o lançamento do livro do lunático cavaquista que, enquanto assessor do seu patrão, inventou a história das escutas em conluio com José Manuel Fernandes, então diretor do Público. Não surpreende que Marcelo faça uma visita à Procuradoria Geral da República para, de braço dado com a titular do cargo, abençoar os esforços dos rosários teixeiras, e que a trupe de Balsemão tente endeusar o juíz que lhes deu cobertura.
Não é preciso ser muito imaginativo para nos vermos perante a conspiração, que uniu diversos setores da justiça, da imprensa e dos partidos de direita para tentarem afastar o Partido Socialista dos corredores do poder por muitos anos.
A Geringonça trocou-lhes as voltas, mas eles não desistem, e contam, como se viu, com o beneplácito do campeão das selfies. Que se compreende cada vez melhor, porque anda no afã de aumentar a sua popularidade junto do eleitorado até valores quase kimjongunianos: é que, para prosseguir nesta tentativa de recuperação do poder, a direita e os setores, que estiveram por trás da Operação Marquês, precisam de um cúmplice em Belém, que se sinta com poder suficiente para cometer todas as tropelias destinadas a fazer desta atual maioria parlamentar um breve interlúdio até a estratégia gizada voltar a ganhar condições de se reaplicar. Com cortes em remunerações e direitos a quem menos têm e com a impunidade para os que sempre lucram mais e mais com as crises em que nos temos vindo a afundar.
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