Muito mais interessante do que a coisa rasca, que Cavaco recentemente publicou, é o segundo volume de «Jorge Sampaio - a Biografia», agora publicado.
A dez anos de distância ficamos a saber que o antigo Presidente da República voltaria a empossar Santana Lopes, mas também não deixaria de destitui-lo perante tão notória constatação da sua irresponsabilidade.
O livro é interessante em vários aspetos: antes de aceitar o afilhado de Barroso, Sampaio tentou que a escolha incidisse em Manuela Ferreira Leite ou em Marcelo Rebelo de Sousa muito mais capacitados para aquelas funções. No entanto Barroso insistiu no amigo e até chantageou o presidente, revelando o tipo de sujeito sem escrúpulos que a sua posterior ação na Comissão Europeia e a transferência para a Goldman Sachs demonstrariam para quantos ainda tivessem a veleidade de acreditar nas suas «qualidades».
Fica-se, igualmente, a saber que Sampaio vetou Paulo Portas para os Negócios Estrangeiros e Fernando Negrão para a Justiça.
Mas onde o livro é mais eloquente é no desmentido de um qualquer preconceito de Jorge Sampaio contra o governo em causa, por ele suportado até ao limite da sua paciência. Porque quando a colocação de professores resultou num caos, que implicou o atraso do início do ano escolar, quando a direção da RTP foi demitida para ali colocar gente mais domesticada, quando Portas mandou uma corveta atacar o barco do aborto sem dar peva ao Comandante Chefe das Forças Armadas ou quando a casa clandestina de Nobre Guedes na Arrábida significava uma arrogante forma de exercer o poder, não restava outra solução que não fosse a dissolução da Assembleia da República.
Por muito que Santana Lopes se dê agora ares de senador de opereta, na realidade a sua passagem pela governação reduziu-se à dimensão de uma trágica anedota.
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