Nem o pai morre, nem a gente almoça!
O provérbio ajusta-se na perfeição ao atual estado da União Europeia em dia de reunião dos principais líderes europeus. A questão é saber se o moribundo consegue evitar o desenlace, que lhe adivinhamos. É certo que António Costa considera extemporânea a desistência do projeto europeu, mas tem-se comprovado o quão insensata foi a decisão de abrir a leste uma organização, que tinha propósitos económicos, pretendia converter-se numa organização política mais ambiciosa, mas deixou-se transformar em quase exclusiva ferramenta de quem pretendia dissociar os antigos países do Pacto de Varsóvia da influência russa.
Essa ampliação geográfica da organização tornou-nos ainda mais periféricos e possibilitou uma viragem ideológica mais à direita, destruidora dos legados democrata-cristão e social-democrata em benefício de um neoliberalismo descontrolado em que as pessoas foram esquecidas em proveito dos lucros dos seus plutocratas e burocratas.
No mesmo dia em que o PCP lança o livro “Euro, Dívida, Banca — Romper com os constrangimentos, desenvolver o país”, que sintetiza as posições, que há muito lhe conhecemos e vêm conquistando progressivo acolhimento em setores cada vez mais alargados do pensamento nacional, confesso-me a fazer a travessia de eurófilo para eurocético. Ainda não em definitivo: aguardo que possa haver de substancial diferença numa Europa com as esquerdas a afastarem as direitas dos governos, tão-só saibam criar os seus próprios modelos de convergência, semelhantes aos que estamos a testar em Portugal.
Quero crer que, com um Schultz na liderança alemã, e líderes de perfil semelhante nos mais influentes membros da União, ainda se possa recuperar a lógica da Europa dos cidadãos. Mas, tendo em conta a improbabilidade de tal cenário nos próximos anos, o mais certo é o moribundo acabar por morrer antes que isso se possa tornar possível.
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