A escalada verbal de Recip Erdogan contra as autoridades holandesas ou alemãs, que o impedem de fazer comícios junto das comunidades turcas nos respetivos países, não é indiferente ao facto de ambas estarem em processos eleitorais. Nem porventura está dissociada da recente visita a Putin que já não esconde o interesse em ver progredir a influência eleitoral dos partidos de extrema-direita nos países da União Europeia.
Atiçando essas comunidades, incendiando-as com o argumento de estarem a ser alvo de discriminação racista, Erdogan visaria a criação de tumultos passíveis de incrementar os fantasmas islamofóbicos nos eleitorados mais sensíveis a essa reação. Ganharia ele, que poderia competir com os ayattollhas iranianos na competição sobre quem melhor respresentaria o mundo muçulmano na comunidade internacional e possibilitaria ao Kremlin o enfraquecimento da já frágil União, cujo estilhaçamento constitui objetivo estratégico essencial para o alívio da pressão a que tem vindo a ser sujeito desde a reversão da situação ucraniana.
Até ver os europeus têm reduzido Erdogan à condição de cão que ladra, mas não morde. Mas, num artigo de hoje, a jornalista Teresa de Sousa reconhece que a Europa não tem sabido responder eficazmente ao islamismo na sua comprovada incompatibilidade com a Democracia.
Agora que a derrota do Daesh tenderá a aliviar a pressão emigratória sobre as suas costas, a Europa bem andaria se deixasse de ceder às chantagens de Erdogan e o abandonasse às consequências da viragem para um fascismo cada vez menos disfarçado.
Como? Não é difícil imaginá-lo! A Holanda, por exemplo, é só o maior investidor na economia turca. Ora esta, já de si privada dos fluxos turísticos a que se habituara, quanto tempo resistirá a sanções económicas quer veladas quer explicitas ? A contas com a sua própria crise não será propriamente Putin a conseguir auxiliar um Erdogan depressa confrontado com as consequências da sua estratégia ditatorial.
Sem comentários:
Enviar um comentário