Não é que me entusiasmem particularmente as posições do holandês Cas Mudde, que veio apresentar o seu livro “Populismo, Uma Brevíssima Introdução” à Fundação Francisco Manuel dos Santos, mas nalgumas das suas afirmações reconheço-lhe razão. Por exemplo a responsabilização dos sociais-democratas na ascensão recente dos populismos: os comportamentos políticos de Tony Blair, Gerhard Schroeder ou François Hollande, que governaram os respetivos países na mesma lógica de qualquer partido de direita, explicam os Farage, as Frauke Petry ou as Marine Le Pen: “a culpa é da social-democracia, que se converteu ao liberalismo e abandonou o papel de alternativa. Esta reorientação à direita dos partidos sociais-democratas é a principal razão apontada pelos estudos sobre o crescimento do populismo e da direita radical.”
Mudde estranha a inação marxista a uma situação política, que a deveria favorecer. E eu lamento-a deveras, muito embora não ignore o quanto ela foi alimentada pela ideia de que ser de esquerda era o que os «sociais-democratas» defendiam, enquanto os outros que, mais consistentemente, se reclamavam de tal espectro político eram desqualificados como «radicais» defensores dos crimes estalinistas e outros que tais.
Basta atender a algumas críticas a alguns textos deste blogue para aferir quanto a maioria surge eivada de um pensamento estereotipado sobre o que é o socialismo, o comunismo, o marxismo e outros conceitos equiparados.
A explicação de Mudde é outra: a de não terem sido assim tão intensos os efeitos da crise de 2008 na maioria dos países europeus, cingindo-se aos do sul: “essa ausência de resposta marxista é muito intrigante, reconheço. Especialmente durante a crise, seria de esperar uma revitalização muito forte da esquerda radical; a que aconteceu foi espelhada apenas em dois partidos, o Syriza e o Podemos. Creio que em parte é porque a maioria dos países não foi assim tão afetada; não estão bem em termos financeiros, mas não estão a passar por uma crise da mesma forma que os países sob resgate.”
Concordo, igualmente, com a sua tese em como a alternativa aos populismos reside em lançar uma narrativa inspiradora sobre o futuro, no qual se projete a esperança de se vir a ser mais feliz. É esse Portugal mais desenvolvido, que António Costa tem proposto ou o que justifica o crescimento significativo do Partido Esquerda Verde nas eleições da próxima semana na Holanda. Ao contrário do discurso da TINA, que ensombrou a vida dos europeus nos últimos anos, eles aspiram a uma maior qualidade de vida, onde faça sentido ter projetos realizáveis: “Faz-nos falta uma narrativa inspiradora, capaz de promover a democracia liberal pelo que traz de bom à sociedade. E faz falta uma narrativa europeia! Vamos ter sempre pequenas minorias que não estão satisfeitas com a situação atual. A democracia não aspira a um consenso absoluto, rege-se pela vontade da maioria. Se um país for governado com base na vontade de 60% ou 70% da população, a democracia está a funcionar bem.”
O crepúsculo dos populismos pode concretizar-se com a menor intensidade do problema dos refugiados. A crise que eles protagonizaram resultou no que Mudde classifica como «tempestade perfeita»: “o grande número de refugiados apela ao nativismo das pessoas, que se sentem ameaçadas pelo que não entendem; ao mesmo tempo ocorrem vários atentados, que aumentam a perceção de insegurança, o que apela ao autoritarismo; e a resposta fácil, que seria o fecho das fronteiras, não é fácil por causa da União Europeia, o que apela aos nacionalismos. É a tempestade perfeita para dar espaço aos partidos nacionalistas.”
As sucessivas derrotas do Daesh no Iraque e na Síria poderão facilitar o regresso às suas terras de quem delas partiu para escapar à morte. E esse será fator, que retirará às extremas-direitas os argumentos falaciosos com que têm embalado muitos dos prejudicados com os efeitos do neoliberalismo...
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