De hoje a um mês voltarei a estar por algumas semanas na Holanda, onde está estabelecida a nossa descendência direta.
Se levasse a sério o que a imprensa portuguesa - e não só! -, vinha dizendo nas últimas semanas, deveria sentir a apreensão de vir a reencontrar um país dominado pelos seus demónios xenófobos. Mas, como dizia uma antiga expressão, os publicitários eram manifestamente exagerados. Mesmo subindo alguma coisa a extrema-direita não constitui perigo imediato numa sociedade onde ela manifesta sinais de ter alcançado o seu patamar mais elevado.
Não esqueço que, no supermercado de Haia onde costumamos fazer as compras para o dia-a-dia, já deparámos com uma ou outra empregada holandesa manifestamente antipática para quem pressentem vir de outras origens, mas a reação tem sido compensada pela simpatia das colegas de cor, bastante mais empáticas nas mesmas circunstâncias. Existe decerto uma camada da população efetivamente racista e xenófoba, que é aquela que vota em Wilders. Mas a grande maioria não tem esse tipo de valores nem comportamentos.
Mas as eleições holandesas confirmam uma tese, que o Pasok grego já mostrou à saciedade: sempre que se coligam com as direitas ou lhes replicam o discurso político, os partidos sociais-democratas caem a pique junto dos eleitores. Daí que os trabalhistas tenham sofrido justa punição, devolvendo em breve o senhor Djesselbloem ao merecido anonimato.
Para os partidos irmãos dos socialistas portugueses, a opção é clara: ou se assumem verdadeiramente de esquerda, buscando apoios nessa área política e arriscando uma governação contrária aos ditames austeritários, ou condenam-se à irrelevância.
Mas há ainda outra lição a recolher: o Brexit e a eleição de Trump empolaram os receios sobre uma suposta supremacia das extremas-direitas nos países europeus. Ora, o que se passou no país das tulipas mostra bem como, mesmo merecendo alguma atenção, essas forças populistas não justificam que se focalizem nelas as análises políticas sobre o futuro dos respetivos países. Até porque a confirmação do desastre anunciado pela chegada de Trump à Casa Branca tende a intimidar quem possa sentir-se tentado a eleger uma tão débil réplica.
As próximas eleições em França e na própria Alemanha tenderão a confirmar isso mesmo: quer Marine Le Pen, quer a Alternativa pela Alemanha terão resultados mais significativos do que nos escrutínios anteriores, mas conhecerão esse pico a partir do qual começarão a cair. É que torna-se evidente a incapacidade para encontrarem respostas exequíveis para os temores e as ansiedades dos eleitores. E tão só as esquerdas reassumam um discurso esperançoso, logo conseguirão o reconhecimento conseguido por exemplo pelo Partido da Esquerda Verde holandesa, que conseguiu quadruplicar o seu número de deputados no parlamento holandês.
O que explica o sucesso da governação de António Costa é essa coragem em convergir à esquerda abandonando as não-soluções que as direitas insistem em, contra todas as evidências, considerarem como boas.
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