sábado, 11 de março de 2017

Os sinais do crepúsculo populista

As notícias empolam a importância de Trump, de Marine Le Pen e de outros políticos da extrema-direita como sendo inevitável a ascensão dos populismos e criando um caldo de cultura nos imaginários coletivos, que os tornaria «normalizáveis».
Todos nos recordamos dos esforços de uns quantos opinadores a preverem que Trump candidato moderaria bastante os seus atos enquanto presidente. Apesar das evidências em contrário, ainda são capazes de teimar que isso acabará por ocorrer mais cedo ou mais tarde.
No entretanto estão-se a passar novidades nas esquerdas. Bernie Sanders já mostrou que existe uma nova geração norte-americana disposta a resgatar o país das trumpelinices dos bebedores de chá e seus cúmplices. Ainda não foi desta, pois tolheu-lhes o caminho a teimosia narcísica de Hillary Clinton, mas ao virar da esquina a Casa Branca será tomada por visão bem diferente do que deverá ser a política federal.
A norte, Justin Trudeau está a prenunciar essa mudança geracional, mostrando que o Canadá poderá ser um país bem melhor gerido e mais justo do que o tem sido pelos que foram testas-de-ferro dos poluidores do Estado de Alberta.
Deste lado do Atlântico há Corbyn, que irrita muitos bem-pensantes, mas tem derrotado quantos tentavam salvar os restos da Terceira Via desvirtuadora da tradição trabalhista. A recente vitória eleitoral de um candidato de esquerda num dos principais bastiões do Brexit é bem elucidativo quanto ao fátuo sucesso das faragices.
Na Holanda o partido da Esquerda Verde de Jesse Klaver substitui-se ao Trabalhista como eixo aglutinador do pensamento progressista e com tal dinâmica, que os seus comícios revelam uma crescente aceitação do eleitorado para fazê-lo participar na coligação pós-eleitoral. Vão assim atirar para merecida pasokização quem tinha em Djesselbloem um dos seus sinistros cabeças de cartaz.
Na Alemanha Schultz tende a virar para a esquerda os sociais-democratas, o que se tornará ainda mais apelativo se se livrar de nova coligação com o partido de Merkel.
Em Espanha, Pedro Sanchez deixou-se de tibiezas e prepara-se para recuperar a liderança do PSOE com o objetivo de encontrar convergências exequíveis com os demais partidos à sua esquerda, Podemos incluído.
Em França Hamon personifica uma nova esperança para o socialismo francês, que Hollande, Valls & Cª se encarregaram de promiscuir com as práticas e as ideias das direitas, e toma como referência a experiência portuguesa que promete replicar.
E há o efeito de exemplo que António Costa e a maioria parlamentar do PS, BE, PCP e Verdes estão a consolidar transformando-o numa referência cada vez mais estudada por quem tem o dever de mudar de vez o rumo seguido pelo mundo desde que implodiu o muro de Berlim. Virar a página e encetar outra mais bonançosa constitui uma necessidade imperiosa. E multiplicam-se os sinais em como essa será a tendência dos tempos próximos, tendo em conta o refluxo que os populismos já começam a conhecer...

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