Até agora Marcelo tem sido acolhido em festa nos sítios onde se desloca. Hoje, porém, já não foi assim, quando se confrontou com manifestantes descontentes com a possibilidade de se prospetar petróleo na Costa Algarvia. Tratando-se de um dos muitos problemas herdados de Passos Coelho, para quem não havia qualquer óbice em estragar tão importante zona turística, conquanto se desse satisfação aos interesses dos que andam a causar terríveis crimes ambientais, sentiu-se em Marcelo o incómodo de já não ver à volta quem dele pretenderia selfies ou abraços.
A semana não está, de facto, a correr bem para o inquilino de São Bento se levarmos em conta o que Ângela Silva, hoje assina no «Expresso».
Jornalista conotada com a direita e habitualmente muito bem informada sobre o que se passa nos seus bastidores, ela dá conta da insatisfação de Marcelo pela escolha de Teresa Leal Coelho para candidata à Câmara de Lisboa. É que, segundo aí se conta, ele ansiaria por dobrar finados por este Governo de maioria de esquerda substituindo-o por outro, conotado com o tal «arco da governação» que António Costa deu como morto e enterrado, mas Marcelo pretenderia ressuscitar como forma de facilitar a vida àqueles por cujos interesses cuidou de conquistar a presidência. Explica-se assim a hipótese por ele explicitada de não enjeitar Passos Coelho como primeiro-ministro na segunda metade do seu mandato.
O projeto passaria, pois, por uma coligação PSD/CDS que, mesmo não conseguindo mais votos do que o PS, fosse suficientemente forte para se impor numa coligação contra as demais esquerdas, novamente marginalizadas para a função de inconsequente oposição.
Uma pugna eleitoral em que veremos Assunção Cristas e Teresa Leal Coelho a digladiarem-se para ver quem fica à frente uma da outra, e com Fernando Medina a assistir da varanda do município ao afundamento das adversárias, poderá significar - segundo pensam os círculos próximos de Marcelo - ao defraudar das suas expetativas. Para as quais, segundo as mesmas fontes, ele até contaria começar 2018 a revelar maior exigência para com o governo de António Costa , minimizando-lhe os bons resultados e sempre apostando na necessidade de bem mais.
Das peças jornalísticas hoje publicadas no semanário em causa, é esse texto de Ângela Silva que deveria merecer leitura atenta. Porque está lá escarrapachado tudo quanto tem justificado o meu reiterado alerta para a malignidade de Marcelo em Belém. Para a qual as esquerdas terão de ser muito inteligentes se não quiserem deitar a perder tudo quanto se recuperou neste último ano.
É que, agora não se trata de lá ter uma múmia putrefacta como a que, anteriormente, assombrava os corredores daquele palácio, Quem agora o habita é alguém que pretende investir a sua superior inteligência e capacidade estratégica em minar o atual governo e estilhaçar a convergência das esquerdas.
Vale-nos que Passos Coelho lhe tem dificultado a tarefa. Mas as esquerdas deverão fazer todo o possível para, não lhe dando qualquer hipótese de sucesso, o levarem a abdicar da candidatura a um segundo mandato. Para tal será necessário que as direitas continuem a revelar-se tão ineptas que a sua travessia no deserto se revele, se não definitiva, pelo menos muito prolongada. Razão para as esquerdas continuarem a apostar no seu mínimo denominador comum e secundarizarem o que mais as divide.
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