1. Se há característica de personalidade, que execro, é a sonsice. E, infelizmente, ela anda por aí à solta, conseguindo enganar os incautos com argumentações feitas de pós-verdades e outras estratégias de manipulação, que procuram alcançar resultados contrários aos interesses da maioria dos cidadãos.
Peguemos no exemplo de Sérgio Monteiro: após embolsar trezentos e oitenta e um mil euros graças ao inaceitável apadrinhamento de Carlos Costa para vender do Novo Banco, eis que sai pouco antes de se designar o nome do comprador - um dos fundos especuladores que investem na lógica de ganância dos Gordon Gekkos (vide «Wall Street» de Oliver Stone) -, para, diz-se à boca calada, tornar-se vice-presidente da instituição em causa, premiado por quem com ele quase concluiu a «negociata».
Será verdade ou o clamor que começa a levantar-se contra tal hipótese, ontem levantada por Pacheco Pereira na «Quadratura do Círculo», será bastante para impedir a “transferência”, que justificaria repúdio bastante mais ruidoso?
Como pode outro sonso, o ainda governador do Banco de Portugal, justificar o comportamento do seu dileto afilhado? Como poderá dizer sem corar, que se sente garante da independência da instituição que (des)governa? É que se independência esteve aqui em causa foi a desse secretário de Estado de Passos Coelho, que, à conta de quanto recebeu nestes últimos quinze meses, bem pode ir gozar os rendimentos sem encabeçar mais um enorme escândalo público.
2. Sonsice também a dos fascistas, que nem se encapotaram em vestes mais apresentáveis para propor uma conferência na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas tendo por um dos temas a descolonização como um «trágico equívoco» e em que quem deu a cara por tais organizadores confessou-se entusiástico admirador de Salazar.
Depois, vitimizando-se, conseguiram apoios de incautos democratas, que se deixaram embalar na ambiguidade dos conceitos sobre o que significa a liberdade de expressão e lhes garantiram abundante espaço na comunicação social, que, de outra forma, não ocupariam. E, mais eficientemente mantiveram-se na posição de vítimas, mesmo quando trataram de ir à Associação de Estudantes intimidar e ameaçar quem ali encontraram, revelando a natureza de «kapos» de novas «SA»’s prontas a agredirem quem rejeita qualquer regresso do fascismo.
Ouviu-se alguma palavra de Marcelo ou da Associação 25 de Abril contra esse comportamento próprio dos «novos legionários»?
A complacência com esse tipo de gente é meio caminho andado para que se sintam estimulados a criarem novos casos onde voltem a sentir-se heróis da «liberdade de expressão», que execram.
Essa e outras liberdades são demasiado importantes para que possam ser invocadas por quem depressa as eliminaria tão só tivessem condições políticas para tal.
3. Outros sonsos são os sucessores de Crato na Sociedade Portuguesa de Matemática, que andam amofinados com o Ministério da Educação por não terem sido convidados para colaborarem nas mudanças em preparação nos currículos escolares. Acaso pode ser esquecida a guerra corrosiva, que fizeram contra as ministras da Educação dos governos de José Sócrates, quando pretendiam impor a sua agenda política?
Os inventores do suposto «eduquês», que tanto mal causaram à Educação dos nossos jovens, tinham por intenção o progressivo aumento de desigualdades entre os que poderiam aceder a um ensino elitista em instituições privadas e outro, tão mau quanto possível, para os que estariam destinados a servirem de mão-de-obra barata numa economia baseada em produção de mercadorias de pouco valor acrescentado. Os apoios criados por Crato às escolas privadas e a preparação do terreno propício a uma «livre escolha» (desde que paga pelo Orçamento do Estado) dos pais quanto aos estabelecimentos de ensino para onde enviariam os filhos, fá-los suspeitos de quererem influir no ensino com propósitos contrários aos que a Constituição estipula.
O ensino público gratuito, universal e de grande qualidade nada deve, nem nada terá a ganhar com os «contributos» dos seguidores do guru do «eduquês».
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