domingo, 26 de março de 2017

Só neste país?

Se há coisa de que fujo como gato da água fria é daquele tipo de programa radiofónico ou televisivo em que se abre a antena para a manifestação das opiniões dos ouvintes ou telespetadores. Das poucas vezes, que aguento o suplício, é para constatar como no mesmo espaço e tempo parecem convergir um selecionado lote de grunhos, cuja imagem associo à daquelas personagens mentecaptas dos Monty Python com lenços a servirem de boné na cabeça. Já me indignei com tais alarvidades, que evitá-las passou a constituir preventivo ato de higiene mental.
Uma das expressões comuns ali escutadas é o só acontecer isto ou aquilo - sempre o pior! - neste país. E muitas vezes argumentam em contraponto como tudo é bem diferente para melhor nos países do norte da Europa.
O que a muitos terá surpreendido durante a semana que passou, foi a unanimidade conseguida pelo pascácio do Eurogrupo, quando nos qualificou, povos do sul, como particularmente atraídos por copos e mulheres. Dias a fio até nesses programas se ouviu ruidoso coro de indignação. E, no entanto, quantos desses  ultrajados de hoje, acenaram com a cabeça quando Passos Coelho e seus acólitos nos quiseram fazer crer que tínhamos vivido acima das nossas possibilidades?
Quem sempre contestou esse tipo de discurso tem legitimidade para contestar com a maior das veemências as barbaridades, que alimentam a inquieta mente de um holandês empurrado para o desemprego. Quanto aos outros mais valeria, que fossem pondo a mão na consciência e entendessem como, com o seu voto e passividade, contribuíram para dar ao resto do país os piores quatro anos vividos desde a Revolução de Abril.


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