O problema com o regime dos aiatolas iranianos é termo-nos tantas vezes iludido com a ideia de pouco faltar para o regime cair cumprindo as esperanças dos que sonharam num país laico e progressista, que olhamos para cada reportagem sobre a insatisfação da juventude e já não cremos na possibilidade de ser esta a que cumprirá aquele desígnio.
A reportagem que Mylène Massé foi agora rodar a Teerão reatualiza o que víramos noutras ocasiões: raparigas e tirarem o véu para se deixarem fotografar e, depois, revelarem-se de cabelos ao vento nas redes sociais; a compra de álcool no mercado negro; noitadas de dança desenfreada em apartamentos da classe média ou mais abastada; a instalação de antenas parabólicas nos terraços e telhados.
Os jovens desafiam as proibições do regime com ousadia crescente. O problema é a existência da milícia religiosa, os Basidjis, quatro milhões de fanáticos com o poder legal de a todos aprisionar nos cárceres do regime. Que continua a ser impiedoso com quem prevarica, contando-se mil execuções por ano, a maior parte por tráfico de droga, mas 15% delas por sodomia, que atesta a sanha muito particular do regime contra a homossexualidade.
Embora meteorologicamente o Irão esteja novamente na primavera, a nível político ainda mantém rigoroso inverno, levando os que podem a dele emigrar.
Ali ao lado, no Iraque, os repórteres ocidentais vão dando conta do alívio de muitos dos que fogem de Mossul em terem-se livrado do Daesh, mas lamentando que o seu país tivesse deixado de ser bem governado desde que Saddam Hussein foi derrubado. E, para além dos riscos inerentes aos bombardeamentos, aos snipers e às minas, os sobreviventes enfrentam outra ameaça não menos perigosa: a poluição suscitada pelos dezanove poços de petróleo, que o Daesh incendiou antes de os abandonar às forças do regime iraquiano.
Nos anos mais recentes a Turquia de Erdogan beneficiou da extração de petróleo de tais poços, pois era para ali que centenas de camiões carregados se dirigiam diariamente. Uma das razões para se perspetivarem dificuldades crescentes ao «sultão» de Ancara será a de não dispor de hidrocarbonetos tão baratos quanto os propiciados pelos seus aliados jihadistas.
Atualmente os bombeiros não conseguem controlar as chamas, que estendem uma negra nuvem de fumo sobre Qayyarah e arredores. Os recursos hídricos estão a ficar contaminados, os pastos e os terrenos de cultura destruídos por muitos anos, e as populações, especialmente as crianças, veem afetadas as vias respiratórias.
As consequências sanitárias e económicas dessa sabotagem ainda estão por contabilizar, tornando incerta a sobrevivência de quem ali viveu até agora.
Quinze anos depois de George W. Bush ter mandado invadir o país com o ámen de Blair, Aznar e Barroso, os custos de tal crime continuam a subir.
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