1. O pior que poderia acontecer nas eleições francesas seria a vitória de Marine Le Pen ou de François Fillon. Por isso o provável sucesso de Macron constituirá uma espécie de mal menor.
Mas as esquerdas gaulesas muito terão a mudar para que voltem a ser protagonistas de um projeto ganhador. Tal qual Chévenement nas presidenciais em que se teve de votar em Chirac para impedir o acesso do pai Le Pen ao Eliseu, também Mélenchon está condenado a ficar para a História como aquele que, no seu dogmatismo e cegueira antissocialista, impede um candidato de esquerda em passar à segunda volta à frente de todos os demais.
Se em Portugal as esquerdas já compreenderam a necessidade de convergirem no essencial, secundarizando o acessório, essa lição tarda em ser aprendida para lá dos Pirenéus. É que, aqui ao lado, Pedro Sanchez prepara-se para reconquistar a liderança do PSOE pondo como objetivo essencial a colaboração com o Podemos. Donde, igualmente, se começam a ouvir vozes sensatas a orientarem-se no mesmo sentido.
2. Apesar de lembrar um porta-aviões da batalha naval com duas ou três das suas casas já derrubadas, Carlos Costa fez das fraquezas forças e, entre ir a Marcelo queixar-se de Centeno e propor-se a insana bravata na Comissão Parlamentar, também teima em querer a nomeação de um Administrador, relativamente ao qual conta com o veto do governo.
Depois de infernizar a vida a Centeno, quando este era seu subalterno no Banco de Portugal, o ainda governador prova uma amostra do veneno, que então julgava possuir em regime de exclusividade. Até porque Passos Coelho contava com a sua nunca regateada colaboração sempre que convinha ter o regulador do sistema bancário a decidir de acordo com as conveniências ditadas de S. Bento. Algo que o terá levado a acreditar na perdurabilidade dos seus cúmplices à frente do governo.
Constituindo-se em obstáculo para a realização das políticas mais indicadas para o bem comum dos portugueses, Carlos Costa é persona non grata, que se justificaria remover do cargo, se fossem despiciendos os riscos de reações corporativas de algumas entidades internacionais, que convirá não espicaçar em demasia.
3. A estória da conferência de Jaime Nogueira Pinto anda a provocar algum sururu nas redes sociais e a despertar nalgumas boas almas estranhas solidariedades com um figurão que foi, é e sempre será um empedernido fascista.
Tendo em conta o que dita a Constituição sobre organizações e manifestações coincidentes com a ideologia desse lúgubre passado em que ele exultava nas provocações a quem desafiava a opressão do salazarismo-marcelismo, não me inclino a seguir o preceito voltairiano sobre discordar de tudo o que ele diz, mas defender o direito de se expressar sobre aquilo em que acredita.
Numa altura em que a eleição de Trump nos veio demonstrar como a Democracia, quando não se acautela para defender-se a si mesma, torna-se vulnerável a quem não a respeita, é tempo das esquerdas não se deixarem tomar por parvas e serem boazinhas com quem nunca para elas agiu de igual modo. E bastou ouvir alguns dos energúmenos, que tinham organizado a prédica do figurão para constatar como trazem suásticas e braços estendidos nas (horrorosas) consciências e só merecem ser tratados sem contemplações.
Ao fascismo nunca se deve estender a mão, porque ele logo trata de querer agarrar o braço e, logo de seguida, o corpo todo.
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