Hoje há grande foguetório para legitimar a escandalosa decisão de Passos Coelho de entregar o Oceanário aos donos do Pingo Doce. Como se, quem foge com os lucros para paraísos fiscais, tivesse efetiva preocupação em utilizar aquela assombrosa máquina de fazer dinheiro para servir o efetivo interesse nacional.
Marcelo, coerente com a sua ideologia, avalizará a festa, porque não há episódio em que esteja presente a contradição entre os interesses privados e os públicos em que ele não se incline para os primeiros. Vide o que se passa com as PPP’s na saúde em que mobiliza a influência para garantir o lucrativo negócio de alguns dos seus diletos amigos. Se perdeu a guerra de proteção aos colégios privados, tem desde então sido mais habilidoso em garantir que o governo de António Costa não volte a prejudicar quem ele cuida de defender a partir do Palácio de Belém.
A minha mais recente deslocação ao Oceanário, ditado pela intenção de mostrar à neta o que se esconde no mundo marinho foi uma tremenda deceção: porque é mais importante fazer receita do que garantir as adequadas condições de visibilidade a quem o visita, não parece haver controlo do número de entradas. E note-se que, já temendo o que viria a enfrentar, optei por ali ir em dia-de-semana. O resultado é os adultos condenarem-se a inevitáveis torcicolos para conseguirem ver alguma coisa no meio do emaranhado de cabeças à sua frente, enquanto as crianças pouco aproveitam. No caso da miúda de três anos, que tentávamos interessar pelos assuntos do mar, foi rápida a exigência em sair de tal confusão aproveitando com outro agrado o passeio a pé pela zona exterior adjacente.
É claro que a Fundação do Pingo Doce tentará sempre enganar os tolos com apetitosos bolos. Por isso promoverá bonitos filmes e artigos publicitários (mas omitidos dessa condição) em como financia investigação científica e facilitará entradas às criancinhas dos colégios privados circundantes. Mas, obra pública de grande mérito, pensada numa lógica de servir de instrumento a uma nova política virada para o Mar como a nossa maior riqueza, o Oceanário foi entregue à gula dos merceeiros gananciosos , que tantos elogios fizeram, fazem e continuarão a fazer a quem lhes facilitou a negociata.
Por mim será crível que dificilmente me apanharão ali tão cedo. Se não ponho os pés num supermercado cujos donos fizeram o maior insulto possível ao 1º de Maio enquanto Dia do Trabalhador, também não me disponho a colaborar com mais uns euros para o despudorado desfalque do Oceanário a quem ele efetivamente deve pertencer: aos portugueses.
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