segunda-feira, 27 de junho de 2016

Se eu fosse espanhol…

… estaria a esta hora muito zangado com Pedro Sanchez, Pablo Iglesias e Alberto Garzón. Porque teria dispensado estas eleições, que só reforçaram a direita, e contaria há alguns meses com um governo tipo «Geringonça» a mudar para melhor a vida da generalidade da população.
O que terá faltado há seis meses - a superação das divergências sobre a oportunidade ou não do referendo na Catalunha - torna-se argumento fútil se considerarmos que, com o Brexit, e a provável independência da Escócia, não haverá como travar os processos independentistas de quem se sentir com força eleitoral bastante para optar por essa via.
Bem pode Pablo Iglesias acenar com apoio menos exigente a eventuais tentativas de Pedro Sanchez para agora formar Governo, que os 156 deputados conseguidos em conjunto valem menos do que os 159 de 20 de dezembro transato. Foi para isto que impôs este tira-teimas sobre quem lideraria a esquerda? Uma vez mais os acontecimentos vieram dar razão aos que acusam o líder do Podemos de ter a inconsistência ideológica, senão mesmo o oportunismo, dos que se crismam de «pós-marxistas».
Em texto anterior eu punha a possibilidade de ser positiva a emulação das várias forças de esquerda para procurarem cativar o máximo número de eleitores, como forma de os retirar à direita. O que os resultados finais em Espanha indiciam é o efeito perverso dessa rivalidade em muitas alturas a sugerir um inimigo principal errado.
A hipótese poderia ser testada quanto à sua validade no escrutínio de hoje, e ele foi esclarecedor: se as esquerdas quiserem tirar proveito do que agora se passou só têm de comparar o ocorrido em Espanha e em Portugal. Neste último caso os líderes souberam compreender o sentido do bem coletivo, secundarizando os sectarismos. O resultado está a  ver-se com as sondagens a demonstrarem um crescimento lento, mas sustentado do conjunto da esquerda plural e a queda correspondente dos dois partidos de direita.
Tal como assinalou Pedro Nuno Santos à saída da Convenção do Bloco de Esquerda, o futuro da solução governativa portuguesa continuará a passar pela discussão quotidiana de todas as políticas a implementar pelos signatários dos acordos, que garantem a estabilidade do Executivo de António Costa. E seria isso que Sanchez, Iglesias e Garzón deveriam experimentar: encontrar os mínimos denominadores comuns, cingindo as divergências ao veredito de quanto elas são mais ou menos importantes do que o interesse da maioria dos eleitores. Vai-se a ver e princípios aparentemente inabaláveis podem ser muito mais flexibilizados do que se julgaria, se a compensação beneficiar os mais desfavorecidos nas respetivas carteiras.
Em Portugal será desejável, que a esquerda plural tenha presente esta lição e prepare em conjunto e atempadamente o Orçamento e as autárquicas do próximo ano, para que se consolidem as convergências e se acautelem as divergências que subsistam.

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