sábado, 16 de fevereiro de 2019

E se a saúde dos portugueses fosse entregue exclusivamente aos privados?


Como seria a saúde dos portugueses se a conjunção dos esforços dos grupos privados e dos dois sindicatos dos enfermeiros, comandados pela sua bastonária, bastar para pôr em xeque o SNS? A hipótese de serem bem sucedidos é reduzida, mas as últimas semanas têm sido pródigas em casos - desde a «greve cirúrgica» à novela ADSE sem esquecer as colaterais reclamações das farmácias - que visam conjugar-se no objetivo de impedir a publicação da nova Lei de Bases da Saúde, peça mestra da estratégia de separar o setor entre quem dele cuida como direito dos cidadãos e os que visam nele fazer o seu negócio.
O exemplo do que pode vir a ser um problema grave se os portugueses se vissem cingidos aos hospitais e clínicas privadas, foi-me hoje dado por familiares que vivem em Haia, na Holanda. Nessa cidade existem três hospitais, que foram comprados por um grupo privado. A ideia era conseguir uma melhor prestação de cuidados aos pacientes, já que ali vigora a política de um governo de direita para o qual o mercado só oferece benefícios, enquanto, o Estado só tende a atrapalhar. O problema é essa falácia estar a ser rapidamente desmascarada com muitos dos habitantes da cidade a ficarem justificadamente alarmados pelo facto desse grupo privado já se queixar de não ter pacientes em número suficiente para conseguirem a esperada rentabilidade, pelo que se propõem fechar um deles - o Bronovo -, tido como o mais relevante, tanto mais que é aquele a que recorre a família real, quando disso tem necessidade.
Coincidentemente esse hospital fica localizado numa zona da cidade, que vale muitos milhões se for demolido para dar espaço a um investimento imobiliário.
Na prática o que os habitantes de Haia estão a sentir é o esplendor da saúde entregue a interesses privados, que desprezam totalmente a qualidade dos serviços prestados aos cidadãos, porque dão prioridade à maximização dos lucros dos acionistas. Os holandeses estão, pois, a sentir o que significa entregarem a grandes grupos económicos as funções, que deveriam caber ao Estado. Esperemos que os portugueses não deixem chegar o setor a tão repugnante deriva do capitalismo selvagem.

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