quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

O senhor Silva, que se diz socialista e sindicalista, e nem é uma coisa nem a outra!


Nunca tive grande simpatia por Torres Couto mas, na altura, considerei útil a criação da UGT como forma de não alienar o movimento sindical aos interesses exclusivos de um Partido.
Sucedeu-lhe João Proença e cresceu a antipatia para com a organização por se assumir progressivamente alinhada com os interesses das confederações patronais no intuito de inverter os direitos na legislação laboral conquistados com a Revolução de Abril.
No tocante às classes marítimas, a UGT tornou-se feudo dos que tudo se dispuseram a fazer para que os armadores da Marinha Mercante reduzissem drasticamente as remunerações e os seus direitos, mormente os de descontarem para a Segurança Social para virem a ter uma reforma digna.  No caso do Sindicato da minha classe, a dos Oficiais e Engenheiros Maquinistas Mercantes, favoreceu a criação de uma organização paralela, quando os cúmplices dos armadores sofreram uma calamitosa derrota nas eleições para os corpos gerentes, logo sendo acarinhados na central como merecendo crédito quanto à sua (ir)representatividade junto de quem se diziam «defensores».
Ficou desmascarada a ética dos que mandavam na UGT: se se mostrassem dóceis aos desígnios dos patrões os sindicatos nela filiados eram acarinhados, mas, caso contrário, logo se arranjava forma de criar um outro paralelo para que o objetivo final fosse garantido. Esse comportamento crapuloso não tardaria a manifestar-se de outra forma sinistra: nas empresas de navegação, que o havia apoiado, esse sindicato amarelo passou a ser de filiação obrigatória para quem aí quisesse prosseguir a carreira. Os trabalhadores marítimos passaram a ser  coagidos a descontarem para esse sindicato e para os que com ele criaram uma espécie de cartel mafioso. Os que quiseram manter a filiação anterior tinham duas opções: ou despedirem-se ou verem descontada a quota  para o sindicato paralelo pela empresa armadora, e pagarem à parte a que lhes manteria pelo vínculo com a sua organização sindical de sempre.  A tão veemente atropelo à liberdade de cada trabalhador decidir sobre qual a organização sindical a que pretendia pertencer João Proença limitou-se a encolher os ombros e até a levar ao colo o anónimo militante laranja, que lidera esse sindicato paralelo a presidente da central.
Carlos Silva só veio agravar a promiscuidade entre a UGT e o patronato. Ele é daqueles supostos militantes, que qualquer Socialista com letra grande tem vergonha de ter como camarada. Porque mostrou tanta compreensão com Ricardo Salgado, quando estava escarrapachada a sua nociva gestão do BES. Porque andou nas palminhas com o governo de Passos Coelho, quando ele violentou os rendimentos e os direitos dos trabalhadores, a tudo dizendo ámen. Porque fez o que esteve ao seu alcance - felizmente pouco! - para dificultar a ascensão de António Costa a secretário-geral do Partido Socialista. Porque, ao longo da atual governação, tem-se mostrado incomodado com a inversão de muitos dos agravos feitos aos trabalhadores, quase parecendo que lhe tiram dentes, quando os partidos à esquerda do PS se congratulam com a reconquista de alguns direitos perdidos.
Não espanta que tenha prontamente acolhido no seio da central um dos sindicatos amarelos dos enfermeiros, criado para o mesmo objetivo do que foi criado em 1991 na minha própria classe. Se o objetivo é apoiar os interesses dos grandes grupos privados na área da Saúde o Silva da UGT está sempre disponível. Bem como para debitar para os jornais afirmações insultuosas para com o primeiro-ministro e para a ministra da Saúde.
Que feita a prova dos nove, ele valha nada, demonstrou-o a greve hoje convocada pela central para todo o setor público e cujos efeitos não se notaram em lado algum. Nesse sentido a CGTP dar-lhe-á amanhã violenta chapada.
Quanto a Carlos Silva restará questionar-nos se, tendo sempre ido de mal para pior, a UGT conseguirá arranjar superar-se quando o substituir. A bitola já é tão rasteirinha, que dificilmente será encontrado quem seja ainda mais subserviente perante quem deveria, pelo contrário, mostrar atitude reivindicativa.

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