terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

O Vaticano enquanto sociedade homossexualizada


Não se trata de um livro, que procura o escândalo como forma de garantir o sucesso de vendas. Porque «No Armário do Vaticano» - a ser lançado nesta quinta-feira - há uma investigação profunda com centenas de entrevistas realizadas nos últimos quatro anos em mais de trinta países, incluindo a cardeais do Vaticano, a bispos, a núncios apostólicos e a sacerdotes identificados essa situação.
Não se pode dizer que a conclusão seja inesperada, mas surge agora demonstrada em factos documentados: no pequeno enclave de Roma vive a maior comunidade homossexual existente a nível mundial tendo em conta a dimensão do espaço em que age e vive.
O sociólogo Frédéric Martel conclui que o Vaticano é uma sociedade homossexualizada o que torna caricato o discurso homofóbico oficial. Cerca de 80% dos membros do clero, que aí vivem são homossexuais como o eram a maioria dos doze cardeais próximos de João Paulo II, quando, em plena crise da Sida, ele condenou o uso do preservativo.
Numa sociedade cada vez mais liberal - com recuos transitórios nalguns países momentaneamente liderados por governos aparentados à extrema-direita dos valores (Putin incluído!)  - o Vaticano vive na esquizofrenia de se fechar a um ambiente circundante, que lhe exige mudanças, até para que a Igreja Católica deixe de ser notícia por pedofilia, violação de freiras ou outros escândalos.
A hipocrisia existente no clero católico atinge tal paroxismo, que muitos dos contestatários do papa Francisco - que tem noção da dimensão do problema e tenta encontrar-lhe paliativos, ao contrário de Bento XVI que sempre o tentou silenciar! - lhe verberam essa abertura à mudança e escondem os seus atos privados. Martel até constata um paradoxo: quanto mais homofóbico costumam ser as homilias ou as intervenções públicas de um cardeal ou bispo, maior probabilidade existe de tratar-se de um homossexual.
Por quanto nele se constata o ensaio de Martel merece voltar a ser aqui abordado com maior profundidade, quando a sua leitura sugerir novas reflexões...

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