terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Casos de polícia em que eles são os réus


Num romance de Jacinto Lucas Pires, acabado de ler - «A Gargalhada de Augusto Reis» - há um personagem negro, Djalma, que, sem motivo para tal, se vê violentamente agredido por polícias numa sexta-feira à noite. Decidido a formalizar a queixa por tão repugnante comportamento vai à esquadra e, em vez de lhe receberem a reclamação, aprisionam-no e acusam-no de roubos ocorridos nas redondezas. Na segunda-feira, quando é levado a julgamento, o juiz liberta-o sem demora tão esfarrapados se revelam os argumentos dos acusadores. Mas ele aprende uma lição: perante o corporativismo policial tem de comer e calar, porque, pela cor da pele, será sempre o elo mais fraco numa sociedade muito mais racista do que quer parecer.
Embora se trate de uma situação inserida num contexto ficcional o escritor inteirou-se suficientemente das práticas policiais nas adjacências de bairros difíceis para as integrar credivelmente no seu romance. Contra os fundamentalistas, que defendem as corporações policiais como se elas não fossem alvo das infiltrações de gente racista e neofascista, o caso que tem por réus dezassete agentes da esquadra de Alfragide na Cova da Moura, é suficientemente grave para que o Ministério Público defenda ter provas de comportamentos de denúncia caluniosa, injúria, ofensa à integridade física e falsidade de testemunho por parte dos arguidos. Se no julgamento as provas se confirmarem só se pode desejar que os réus sejam exemplarmente punidos!

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