sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Sobre grevistas exaustos, uma risível moção de censura, um cartel mafioso e um comentador desconcertante


1. Em tempos idos cada greve geral da função pública tinha um impacto que esta não está a ter. É certo que muitas escolas fecharam, há centros de saúde e hospitais afetados e algumas repartições oficiais com gente a menos, mas nem a boa vontade das televisões consegue disfarçar o meio-fracasso, que se está a verificar. Daí que Arménio  Carlos ou Ana Avoila tenham de invocar  a reivindicação de melhores serviços públicos, cientes de poderem encontrar nesse interesse coletivo a compreensão já não colhida, quando estão em causa apenas as reivindicações salariais e as carreiras - mero eufemismo para esses pretendidos aumentos de rendimentos! - de algumas classes profissionais em detrimento das demais.
Os pré-avisos de greve têm sido tantos que, cientes de não serem exequíveis os tais passos além da perna de que falava António Costa, os próprios grevistas potenciais andam a dar notórios sinais de exaustão. Ademais, depois de quatro anos em que esses sindicatos se mostraram tão cordeirinhos para com o governo das direitas, que nada deu e tudo tirou aos seus associados, estes sentirão esdrúxula esta permanente tentativa de desgaste de quem, de facto, lhes devolveu muito do que haviam perdido.
Quando Mário Nogueira promete custos eleitorais para o partido do governo está a delirar, porque a antipatia, que suscita em tantos portugueses é suficiente para estes compensarem os votos de quantos por ele ainda andam embalados. O que une Nogueira, a Cavaca dos enfermeiros ou os sindicatos dos juízes e magistrados é a vontade de derrubarem o atual governo e substitui-lo por outro, que se revelaria bem pior. É a velha estratégia da terra queimada que, a resultar, seria catastrófica para a maioria dos que vêm ajudando a propagar as chamas.
No meio de tudo isto vem Cristas avançar com uma risível moção de censura ao governo. O medo de que os novos partidos xenófobos e antieuropeístas lhe roubem algum eleitorado, reduzindo-lhe a expressão parlamentar, que o próprio facto de concorrer sem a coligação com o PSD já lhe anuncia, justifica-lhe a retórica em torno do mito de vir a liderar as direitas. É artifício, que lhe dará ensejo para a peixeirada do costume, mas de que resultará o merecido fracasso.
2. Da imprensa matutina realce-se o artigo de Pedro Filipe Soares no «Público» em que comprova a existência de cartel organizado por parte dos principais grupos privados do setor da saúde  - Mello Saúde, Luz Saúde, Lusíadas Saúde, HP do Algarve e Trofa Saúde — na chantagem à ADSE. Isto depois da própria Procuradoria Geral da República reconhecer que esses grupos tinham andado a vigarizar a ADSE. Conclui o deputado do Bloco que “a chantagem dos privados para manter a sobrefaturação serve para tirarmos outras lições, particularmente num momento em que se debate a Lei de Bases da Saúde. Nas escolhas determinantes que temos pela frente, são argumentos acrescidos para garantir um SNS público e universal que não fique refém dos interesses privados.”
3. O futuro do Partido Socialista vai-se definindo à medida que a geração mais nova vai assumindo maiores responsabilidades a nível do partido, das autarquias ou do governo. Mas ouvindo os elogios de Fernando Medina a Santana Lopes saudando o congresso do seu partido como um “sucesso mediático” ou a forma como alegadamente “marcou com clareza o seu espaço”, fico inteirado sobre quem não apoiarei, quando as circunstâncias o ditarem. Nunca poderei estar ao lado de quem tem Santana Lopes em tão alta estima...

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