sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

(Conquanto não se torne num hábito) hoje até digo bem de Marcelo


Dois recuos, e uma posição digna de elogio, é o que se pode aferir da prestação de Marcelo Rebelo de Sousa no regresso aos écrãs da antiga equipa de comentadores da «Quadratura do Círculo».
Dos dois recuos, um é positivo, o outro é-o menos. O primeiro teve a ver com o que fará, quando lhe chegar o pedido de promulgação da Lei de Bases da Saúde, aprovada no Parlamento. Se anteriormente, afirmara-se disposto a vetá-la se não tivesse o ámen do seu Partido, agora, perante a forte probabilidade de uma derrota no confronto direto com António Costa e com a esquerda parlamentar, deu o dito pelo não dito, condicionando a decisão ao que for o seu conteúdo.
Não nos iludamos quanto à possibilidade de ter havido na sua consciência uma mudança de posição: ele mantem-se ideologicamente igual a quem foi no passado, quando votou contra a existência do Serviço Nacional de Saúde. Mas, tendo pesado os prós e os contras, concluiu ser preferível o seguimento da regra “se não podes combatê-los, junta-te a eles”.
O recuo menos positivo teve a ver com o implícito arrependimento de ter visitado o Bairro Jamaica sem ter dado prévio colinho aos polícias. Sobretudo, quando aquele arauto da honra da corporação (e conhecido por ter sido o organizador de mediático organizador de ação de apoio a Passos Coelho, na fase de pré-campanha das eleições legislativas de 2011!) veio proclamar-se indignado num tom desrespeitoso para com o criticado. Se o gesto de Marcelo fora importante para combater a cultura de racismo, que ganhara dimensões inaceitáveis nas gentes das direitas e nalguns polícias, mormente nos infiltrados pelos neofascistas, para aí polarizarem os conflitos acomodáveis nas suas intenções, esse passo atrás só pode qualificar-se de lamentável. O benefício imediato do gesto vê-se agora prejudicado pelo gáudio do contestatário por lhe ter sido dada imerecido crédito.
Redimiu-se, porém, com a posição firme contra a greve dos enfermeiros, que considerou intolerável. Se a generalidade da população portuguesa está contra uma campanha política, que põe em causa a saúde dos que mais carecem ser assistidos, a opinião de Marcelo poderá ter inclinado para essa posição maioritária os que ainda duvidavam da legitimidade do governo para ter decretado a requisição civil. Mesmo que se tenha visto depois, no «Eixo do Mal», um dos opinadores de serviço recorrer a uma ínvia argumentação para tentar justificar o injustificável, convenhamos que, para o bem e par ao mal, os que possam ser influenciados por Marcelo são bem mais do que quem porfia em dar crédito a Pedro Marques Lopes.

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