quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

O mundo está a ficar nuclearmente mais perigoso


Um dos muitos equívocos sobre Barack Obama residiu no facto de, num discurso emblemático, ele se ter comprometido a trabalhar para um mundo liberto de armas nucleares. No entanto, os menos ingénuos, não terão deixado de reparar que a parte mais importante desse mesmo discurso foi a seguinte, quando afiançou a necessidade de investir mais em novo armamento desse tipo como singular forma de alcançar essa ilusória quimera. Como de costume, a coberto da imagem de «pomba», Obama demonstrava a sua intrinseca essência de cínico falcão.
O atual momento de tensão entre os Estados Unidos e a Rússia tem a ver com o facto de grande parte do arsenal norte-americanos estar no termo da sua vida útil e a carecer substituição. Trump aproveita a rescisão do tratado existente para garanti-la sem pensar nos limites, que comportaria se se cingisse aos compromissos internacionais. E, ao mesmo tempo, garantir uma excelente perspetiva de negócios para a vastíssima plêiade de empresas dedicadas a essa atividade, em tempos denunciadas por Eisenhower como «complexo industrial-militar». Empresas que, como á sabido, foram fundamentais no financiamento da sua campanha eleitoral e da generalidade dos candidatos republicanos ao Senado e ao Congresso.
Perspetiva-se, pois, uma nova guerra fria com riscos muito sérios a pairarem sobre as nossas cabeças. Porque não se pode ignorar que, por exemplo, os militares norte-americanos incumbidos de cumprirem a ordem de disparo dos mísseis nucleares são jovens entre os 18 e os 26 anos, todos eles armados para eventualmente reagirem contra os colegas que se escusem a seguir o protocolo, ou se lhe queiram antecipar. Porque há, igualmente, registo de casos de alguns desses militares serem consumidores de cocaína, com o que isso possa significar num qualquer episódio descontrolado, que suscite retaliações e contrarretaliações até ao desenlace apocalítico final.
O Pentágono parece pensar que, ao retomar a bem sucedida estratégia de Reagan em acelerar a corrida aos armamentos, pode replicar a bancarrota económica e financeira dos principais inimigos. É esquecer que, do outro lado da trincheira, estão os chineses em condições de replicarem com uma eficácia outrora inalcançada pelos soviéticos. Porque não sobram dúvidas quanto ao facto de, através da aparente disputa com a Rússia, o imperialismo norte-americano visar Pequim, ciente de ver irreversivelmente infletido o desequilíbrio dos pratos da balança quanto para mais tarde procrastinarem as batalhas, que se seguirão.

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