domingo, 10 de fevereiro de 2019

Um sanguinário protesto inorgânico


No Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga a greve dos enfermeiros deixou 38 operações classificadas como prioritárias por fazer, o que correspondeu a um total de 43% das agendadas. E, quase por certo é consensual para a maioria dos portugueses  que, prioritárias ou não, todas as cirurgias são urgentes, porque, de outra maneira, não teriam sido consideradas necessárias pelos médicos.
Púnhamo-nos na pele de um desses pacientes: alguns sintomas terão justificado a ida ao médico, que terá prescrito os exames demonstrativos de só serem debelados através da cirurgia. Quem o convence de que o seu caso não é prioritário? Quem lhe garante que o adiamento da sua resolução não agravará um estado, que já lhe suscita justificadas inquietações?
A verdade é que na luta dos enfermeiros contra o governo, mero eufemismo destinado a destruir o Serviço Nacional de Saúde, não existem dois lados passíveis de se sentarem para negociar uma plataforma de entendimento mínimo. Existe um outro lado, que revela ser o mais fraco no triângulo em confronto: o dos doentes. E é obscena a atitude de quem os toma como reféns dos seus interesses egoístas.
Nesse sentido Pacheco Pereira tem razão, quando constata a lógica de um dos pins usados pelos enfermeiros na sua forma terrorista de expressarem os seus interesses: uma mão a sangrar. De facto trata-se de uma forma sanguinária de fazer política a coberto de uma duvidosa legalidade sindical.
Na crónica semanal do mesmo comentador há um outro aspeto com que estou totalmente de acordo: para que servem as Ordens Profissionais? Como se pode aceitar esse repugnante resíduo do corporativismo fascista? É que a mera acreditação de um curso universitário deve bastar para se aceder a uma profissão, sendo inaceitável que haja quem se arrogue a decidir quem pode ou não exercê-la. Porque o alegado argumento de aferidor da deontologia fica demonstrado com a atitude da bastonária dos enfermeiros, que não leva em consideração os princípios éticos supostamente prioritários na sua profissão - o da defesa dos superiores interesses dos doentes - e se comporta como uma incendiária dirigente de um movimento inorgânico de protesto.

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