quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

A tragédia de um homem ridículo


A propósito da morte em novembro do realizador italiano Bernardo Bertolucci a Cinemateca tem apresentado grande parte da sua obra durante este mês nas duas salas da Barata Salgueiro. Um dos títulos que não foi programado chama-se «Tragédia de um Homem Ridículo» e veio-me à memória, não só porque Ugo Tognazzi tinha aí um dos desempenhos, que mais recordo, mas sobretudo por se ajustar que nem uma luva a outro personagem, que vem animando os nossos dias. Trata-se do presidente de um dos sindicatos dos enfermeiros que, por esta hora, e se cumprir o prometido, estará a iniciar uma greve da fome à porta do Palácio de Belém.
Que dizer de tal intenção senão que reflete o desespero de quem se julgou forte como um leão e se apresta a sair de cena como timorato cordeiro? Tendo exigido o oitenta, sem sequer estar nos oito - recordemos que o governo lhes devolveu o horário das 35 horas semanais e lhes infletiu os cortes infligidos pelo governo de Passos Coelho contra o qual nada tinham exigido! - esse sindicato e o que lhe fez companhia, sob coordenação da bastonária, procurou pôr o governo em dificuldades por exclusiva motivação política.
O que os enfermeiros conseguiram com a sua greve ilegal foi serem repudiados pelos portugueses, que condenam a sua desumana estratégia. E, se a intenção era diminuir o apreço do eleitorado pelo Partido Socialista, a forma como Marta Temido enfrentou a crise só contribuiu para que crescesse o apoio à sua desassombrada forma de reagir.
É provável que, nos dias mais próximos, os sindicatos dos enfermeiros - sobretudo os que não foram criados para avançar com esta golpada! - sejam convocados para negociações com a tutela. Mas comparecerão muito mais fragilizados do que estavam antes de quererem exigir o Carmo e a Trindade.
Para o obeso grevista da fome pouco ficará para além dos benefícios conseguidos com o breve jejum a que se entregará. Se terá novo fogacho mediático com o primeiro dia em que se postará no previsto local de protesto, depressa as televisões dele se desinteressarão, porque esgotou depressa o seu prazo de validade. Os Ramalhos desta vida nunca aprendem com o exemplo de Ícaro: quando tentam aproximar-se demasiado do sol, queimam-se-lhe as asas e embatem com estrondo do rasteirinho chão onde merecem quedar-se.

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