Na segunda temporada da série «Marte», produzida pela National Geographic, a viúva de Carl Sagan dizia muito claramente isto: enquanto não soubermos viver pacifica e sustentavelmente no nosso planeta, não temos qualquer legitimidade para irmos explorar qualquer outro. Porque só o iríamos estragar em vez de o sabermos apreciar e estudar de forma a melhor nele se encontrarem formas equilibradas de garantir a colonização. Por muitas décadas ainda se viverá segundo a premissa fundamental de termos de cuidar desta azulada casa comum, por não existir outra para que nos possamos mudar.
O que a série norte-americana demonstra é a obscenidade sem escrúpulos do capitalismo selvagem, que age em função do rápido retorno do investimento dos acionistas, assegurando-lhes lucros maximizados. Por isso são admissíveis todos os golpes baixos e justificam-se os riscos mais insensatos. Até que se constatam consequências trágicas para quem apostou em tal estratégia.
No fundo o mesmo que se passa com a indústria petrolífera dos nossos dias, que olha gulosamente para as reservas de hidrocarbonetos nos fundos marinhos do Ártico e anseia por que se tornem mais facilmente exploráveis à medida que o aquecimento global vá amenizando as condições meteorológicas da região. Já não falando nos ursos polares ou nos narvais, que têm extinção cada vez mais iminente, esses responsáveis pela emissão acelerada de carbono para a atmosfera almejam os lucros dos anos mais próximos, mesmo que eles signifiquem a sua impossibilidade num futuro subsequente, caracterizado pelo cataclismo planetário por razões ambientais. Quando quase ninguém sobreviver num planeta infecto, as empresas que o terão destruído acabarão inevitavelmente falidas.
Mas o que o pato bravo da Casa Branca ou o jagunço do Planalto representam hoje em dia é essa forma de capitalismo selvagem em riscos de rutura a curto prazo, porque, esgotada a capacidade de manter crescimentos económicos com a globalização, só lhe restaria a alternativa de prosseguirem noutro planeta a rapina dos recursos minerais, que neste começam a escassear. Ora a possibilidade de abrir as primeiras prospeções mineiras em Marte não se adivinham possíveis senão daqui a uns trinta anos, quando este estado comatoso do sistema económico, substituto do feudalismo medieval, já tiver sido suplantado por algo de novo, que - é esse o meu desejo! - corresponda a um desenvolvimento atualizado do ideário marxista.
A expansão espacial não ocorrerá a tempo de salvar os conglomerados económicos dos plutocratas por muito que os patrões da Tesla ou da Virgin se mostrem tão empenhados em consegui-lo. Não tarda que a humanidade compreenda que a sua sobrevivência passe por substituir a obsessão com o crescimento da economia pelo seu fundamental decrescimento controlado.
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