sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

A reconquista dos espaços públicos libertando-os dos mentirosos prosélitos


Durante uns tempos vi-me assediado pelas trupes de evangélicos, testemunhas de jeová, mórmons e outros credos similares, todos dispostos a prodigalizar-me a sua «boa nova». Fechando-lhes rapidamente a porta na cara, ou dispondo-me a ouvi-los para os confrontar com a sua ignorância e contradições, julguei-me duradouramente a salvo da sua insistência, acreditando-me incluído numa clandestina lista negra de endereços a evitar.
Acontece que, nos últimos meses, tenho-os visto voltar à carga e torna-se inevitável relacionar o facto com a estratégia gizada pelas seitas evangélicas para influenciarem politicamente os cenários em muitos países, com particular expressão nos Estados Unidos e no Brasil, em que os seus pastores foram determinantes no voto dos menos esclarecidos nos mais recentes eleitorais. Vendendo um deus ultrarreacionário, pretendem regredir os valores civilizacionais em várias décadas.
No Brasil discutem-se, nesta altura, as razões da vitória do jagunço e perfilam-se duas de monta, imputáveis às esquerdas: não só fixaram-se excessivamente nas questões identitárias, também ditas de fraturantes, esquecendo-se de as interligar com a luta de classes, como abandonaram os espaços públicos, deixando-os entregues a cultos religiosos muito hábeis na alienação de novos prosélitos. Hoje os vencedores ufanam-se de, apesar das esquerdas intentarem a defesa dos negros e das mulheres, sem resultados práticos, eles mostraram serviço: de facto, entre os seus eleitos para o parlamento estão negros e mulheres, aparentemente nada incomodados com os discursos racistas e sexistas do seu líder. E, uns e outros, influenciados pelos valores dessas seitas, não enjeitam apoiar políticas que prejudicarão seriamente os interesses dos seus iguais.
Enquanto é tempo importa que as esquerdas lusas se atenham a esse exemplo e regressem às ruas para contactarem com os eleitores, ouvindo-lhes as aspirações, informando-os dos seus direitos e de que forma estão dispostos a por eles se baterem de forma exequível, denunciando as promessas mentirosas das direitas - tão pródigas quando na oposição, quanto avaras na governação! - e lembrando-lhes insistentemente que esta sociedade está dividida em classes de interesses divergentes, com a ampla maioria obrigada a ser bem mais dinâmica se não quer ver-se empobrecida em proveito da, cada vez mais exígua, minoria.
E importa denunciar ativamente a enorme mentira de um deus superior, que a todos vigia para puni-los ou recompensa-los no inexistente Além!

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