domingo, 13 de janeiro de 2019

Não se ganhando de uma maneira, tenta-se de outra


Nas eleições de 2000 Al Gore teve mais votos do que George W. Bush e viu o opositor ganhar o acesso à Casa Branca. Em 2016 a situação repetiu-se: os três milhões de votos a mais em Hillary Clinton não impediram Donald Trump de ser empossado como presidente dos EUA.
As direitas portuguesas muito gostariam de encontrar algo de semelhante para conseguirem que, mesmo sendo minoritárias sociologicamente junto do eleitorado, a governação lhes voltasse a cair nas mãos. Foi isso que se discutiu na Convenção, que o Movimento Europa e Liberdade promoveu na semana agora finda no auditório da Culturgest, e é  essa mesma campanha que Fátima Campos Ferreira intentará prosseguir com o seu programa televisivo de amanhã à noite. A conclusão é esta: desde que a atual maioria parlamentar demonstrou que, com o presente sistema eleitoral, as coligações deixaram de só serem possíveis à direita, haverá que o mudar para outro, que replique o resultado anterior.
O pretexto é uma mentira descarada: o eleitorado está a abster-se cada vez mais, porque os deputados não tenderiam a representar a vontade dos cidadãos. Ora o problema nunca é posto na sua devida equação: foram os partidos das direitas, e, sobretudo, os interesses que representam, quem apostaram no afastamento entre votantes e votados, ao alienarem a consciência cívica dos portugueses com o que os tende a mediocrizar: dois dos tais éfes tão prezados pelo fascismo - o futebol e Fátima - associados ao consumismo, que imita as drogas duras no seu potencial de virulência. Envenenados por padres e pastores evangélicos, atiçados num clubismo doentio e instados a comprarem o que necessitam, frustrando-se por não alcançarem o que lhes é mostrado como cenoura, mas nunca alcançam, os politicamente mais indefesos indignam-se e sentem ganas de se associarem a coletes amarelos e outras coisas ainda piores.
Utopicamente poderíamos pensar que a solução era correr com as Fátimas, os Gouchas, os Orelhas e outros trastes que tais dos écrãs e substitui-los por quem assumisse a importância do papel das televisões enquanto ferramenta de formação dos espectadores dotando-os de sentido crítico para melhor entenderem o quanto os manipulam para que sirvam interesses contrários aos seus. Trata-se de solução impossível, porque as direitas apossaram-se de tal forma dos canais mediáticos, que a desajeitada tentativa de Sócrates para lhes beliscar o monopólio deu no que deu.
Resta aos partidos das esquerdas serem mais proactivos no seu papel: não apenas em anos de eleições, importa que acorram regularmente a mercados e estações de transportes para encontrarem as populações, propondo-lhes as soluções, mas também ouvindo-as, porque - constato-o por experiência própria, quando faço campanhas eleitorais! - existe uma apetência enorme de um número significativo de cidadãos em darem expressão às suas inacessíveis aspirações. A que só uma política consistente de redistribuição de rendimentos poderá dar progressiva satisfação.

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