sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Trivialidades sobre o futuro do trabalho


A CIP quis mostrar quão preocupada está com a eliminação de muitos milhares de empregos por causa do uso intensivo da automação, e particularmente da robótica. Vai daí encomendou um estudo ontem apresentado ao som de bandas e fanfarras com muitos balões e fitinhas a esvoaçarem virtualmente entre os convivas. Ao governo não emitiu convite porque, de acordo com o Saraiva, seu mandão, e em tom de Diácono Remédios, «não havia nexexidade». E, no entanto, lá «brilhava» na primeira fila esse putativo candidato à liderança laranja (Pedro Duarte), que é a reserva de Marcelo Rebelo de Sousa para retomar o controlo do partido que foi ( e é!) o seu.
O que o tal estudo diz não comporta qualquer novidade. É necessária mais formação, blá-blá-blá. É preciso que o governo pague essa requalificação, blá-blá-blá. Importa que os patrões possam despedir mais facilmente quem se torna prescindível com os novos meios de produção, e sem terem de arcar com quaisquer custos, blá-blá-blá.
No «Público» recordava-se oportunamente uma frase do escritor francês Jean Paulhan que, décadas atrás, dizia: “as máquinas parecem ter sido inventadas para nos poupar de fadigas, mas todos os trabalhadores trabalham muito mais desde que se servem delas.”
E o busílis da questão está mesmo aí, no facto dos patrões quererem aumentar os lucros com menor recurso à mão-de-obra em vez de distribuírem o trabalho manual existente por mais trabalhadores, que receberiam o mesmo por horários de trabalho mais aligeirados. E que anseiam por reduzir as prestações sociais em vez de se verem sujeitos à justa contribuição decorrente de descontarem em função dos seus lucros e não pelo volume de massa salarial, que paguem. Salvaguardando-se obviamente que não mantenham a capacidade para escaparem com esses lucros para paraísos fiscais, claro.
Em suma a CIP fez o diagnóstico do futuro do trabalho nas próximas décadas, mas preparando-se para as orientar de forma a que se salvaguardem os seus interesses. Precisamente o oposto do que mais importa a quem não integra (nem quer integrar!) a sua interesseira corte!

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