quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

A desonestidade de quem usa a CGD como arma de arremesso (por não ter outra)


A obsessão das direitas com a Caixa Geral de Depósitos já dura há tantos anos, quantos os por elas gastos na ânsia de tudo privatizarem em nome do lema «menos Estado, melhor Estado», que é mero logro por significar, de facto, «quanto menos Estado, mais lucro para os donos disto tudo», ou, noutra versão igualmente simplificadora «quanto menos Estado, menor será a força sindical dos comunistas».
Passos Coelho andou a querer afundar o remanescente banco estatal o mais que pudesse, porque a crise levara muitos dos seus apoiantes a desaconselharem-lhe a intenção explicitada no livro, que publicara ainda Sócrates era primeiro-ministro, razão para se convencer que, quanto mais falido ele estivesse melhor o transferiria para um daqueles fundos-abutres do tipo do que viria a contratar a sua ministra das finanças, quando ela se tornou uma anónima deputada.
Agora que, a pretexto da auditoria publicitada no canal da Cofina, quer Rio, quer Cristas, julgam ter filet mignon a que se agarrarem até às eleições, explorando a ideia de um forrobodó de indevidos créditos a uns quantos vígaros, que acabaram por ali legar escandalosos calotes, é altura das esquerdas alterarem o tpo de reação que vêm tendo sobre o assunto.
Não sei se secundam a intenção de Passos em tudo fazerem para acabarem com o que resta de um setor público bancário (desconfio que, pelo menos em Cristas, o desejo se mantém!), mas motiva-os o oportunismo de uma tese, que tudo esquece: essa estratégia de facilitação de créditos ter ocorrido antes da falência da Lehman Brothers em 2008, que precipitou a crise global, e ter até havido ordem da Comissão Europeia, então liderada por esse expoente de «competência» chamado Durão Barroso, para que se investisse nas economias tanto quanto possível enquanto paliativo para responder a esse súbito tsunami financeiro.
Mas seria de esperar que houvesse alguma honestidade intelectual em quem continua a defender que fora o governo de então, e não a crise de 2008, a obrigar o país a recorrer à troika?
Talvez se revele, pois, judiciosa a iniciativa do PS em propor a Comissão de Inquérito no Parlamento, mesmo sabendo-se que nada de novo irá apurar. Mas, pelo menos retira capacidade de iniciativa às direitas e pode impor o âmbito do que vier a ser inquirido, nomeadamente as mesmas políticas de crédito noutras administrações, que não a liderada por Santos Ferreira. Ou o papel assumido pelos que o PPD e o CDS impuseram como jokers em tais administrações, como foram os casos de Celeste Cardona ou Nuno Fernandes Thomaz, ex-deputados do CDS cujo curriculum não seria mais adequado que o do tão diabolizado Armando Vara.
Como propunha Louçã na sua crónica de ontem, no «Expresso», este é o tempo em que as esquerdas só contrariarão as dinâmicas das direitas mais extremas, se se deixarem de mesuras e partirem decididamente ao ataque.

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