Quando assisto aos debates parlamentares, como o desta manhã - recordo amiúde o meu pai, que era extremamente emotivo em idênticas circunstâncias. Nos anos subsequentes à Revolução, quando a disputa verbal aquecia no hemiciclo, era vê-lo a barafustar com quem se atrevia a pôr em causa a idoneidade e as estratégias do seu idolatrado Mário Soares, líder em quem sempre viu as qualidades e desculpou os defeitos.
Desaparecido há dezassete anos, ele poupou-se a exaltações semelhantes nestes dias que correm. Porque não duvido que teria transferido para António Costa a admiração, que nutrira pelo fundador do PS, e muito o agastaria ouvir os insultuosos argumentos de Assunção Cristas. Porque secundaria o primeiro-ministro na evocação do que ela fez e não fez, quando integrou o pior dos governos portugueses deste século e ainda se diz orgulhosa de tal feito. E convenhamos que já era difícil superar Durão Barroso e Santana Lopes em tal feito.
Cristas consegue ter cara para exigir explicações sobre a Caixa Geral dos Depósitos quando, durante quatro anos, foi cúmplice do porfiado esforço de Passos Coelho para a degradar de forma a tornar inevitável a almejada privatização, e chegou a aprovar reforços do seu capital, assinando confessadamente de cruz o respetivo documento à saída da praia. Depois, e a respeito da violência decorrente do sucedido no caso ocorrido no Bairro Jamaica levou uma canelada, que terá porventura muito mais a ver com o que o grupo parlamentar do CDS alimenta nas conversas de corredor do que com a lógica discursiva do debate.
Quanto ao PSD a progressiva afonia de Fernando Negrão constituiu oportuna metáfora do que subjaz ao encontro do Conselho Nacional, que confirmou a liderança de Rui Rio. Apostados em recauchutar o discurso contra o governo, os responsáveis laranjas até perdem a voz, tão incoerentes lhes saem os fundamentos dos seus propósitos.
Em suma mais um debate em que António Costa chegou, viu e venceu...
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