terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Quando o discurso das catacumbas é só mais do mesmo


Uma das estratégias dos que defendem a preservação do sistema económico de exploração do homem pelo homem é o de multiplicar associações, organizações e outras entidades que, tomando nomes diferentes, convergem no mesmo objetivo: condicionarem tanto quanto possível as políticas do país na direção que almejam. Surgem assim personagens aparentemente vindas das catacumbas, como a drª Teodora ou o sr. Ferraz da Costa com o mesmo discurso de sempre, apesar de contrariado sucessivamente pela evidência dos factos.
Agora o antigo patrão da CIP veio dizer que os portugueses trabalham pouco e a riqueza é escassa para haver quem teime na generalização das 35 horas de trabalho. Ora estatísticas oficiais demonstram que os portugueses, e os europeus meridionais em geral, trabalham bastante mais horas semanais do que os setentrionais, igualmente beneficiados nos dias de férias anuais que usufruem.
Não se duvida que os patrões das várias confederações gostariam de ver replicada o exemplo húngaro na legislação laboral, que significaria a obrigação dos subordinados em fazerem muitas horas extraordinárias sem que lhes fosse garantida a devida retribuição. Mas nem mesmo os iludidos em Viktor Orban andam a prestar-se à pretensão do seu «democrático» ditador como o comprovam as concorridas manifestações de protesto em Budapeste.
As Teodoras ou os Ferrazes vão tendo minutos de antena nas televisões, mas são vozes que clamam no deserto e se ouvirão cada vez mais ao longe. Porque a produtividade tem muito mais a ver com os meios tecnológicos que a sustentem ou com a qualidade dos gestores do que com horários tendencialmente menores. Pelo contrário a realidade futura pressupõe dar cumprimento à previsão de Keynes, que antevia a implementação de horários de quinze horas semanais no decurso deste século. Com tantos algoritmos e robôs inseridos nos processos produtivos, o trabalho remanescente para os humanos terá de ser bem melhor redistribuído.

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