quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O tema da coragem no meio de desprezível bulha


Na biografia sobre a vida e obra de José Saramago, Joaquim Vieira relata situações em que o autor de «Memorial do Convento» foi a única voz discordante em reuniões do seu Partido quando nelas se buscava a unanimidade na aprovação das medidas discutidas. Esse desassombro na afirmação das convicções, mesmo implicando uma forma encapotada de ostracização interna, só superada com o Nobel, serviu de exemplo para o definir como homem de grande coragem.
Ora dessa qualidade, ou da falta dela, tem-se falado amiúde por estes dias a propósito da forma como se votarão as moções a serem discutidas no Conselho Nacional do PSD. A direção nacional pretende o esclarecedor escrutínio do braço no ar. O grupo passista exige voto secreto a pretexto de tornar «mais democrática» a decisão.
Estou incluído naquela imensa multidão de portugueses para quem, entre os dois lados em disputa, venha o Diabo e escolha. Rio não deixa de ser um conservador com tiques autocráticos e salazaristas na forma de zelar pelas contas públicas, mas avesso às questões culturais (para ele prescindíveis em favor de umas ridículas corridas de carros antigos!). Mas Montenegro, Hugo Soares & Cª são o paradigma do oportunismo elevado à sua máxima potência.
Nem uns, nem outros  revelam qualquer ideia para o país, especializando-se no maldizer da maioria de esquerda, mas sem esclarecerem o que fariam para conseguirem melhores resultados nos indicadores económicos e sociais.
Se tivermos de considerar qual constituirá o mal menor para a vida futura dos portugueses, aposto nos que não têm medo de dar a cara e assumir-se naquilo que acreditam. Sem pensarem nas consequências das suas opções. Mas, convém que se diga, que comparar a coragem de Saramago com qualquer dos que estarão presentes no cenáculo laranja, será como Mário de Carvalho um dia considerou num dos contos do Beco das Sardinheiras: confundir Manuel Germano com género humano! O que já se percebeu não ser possível: o género humano - pelo menos no que possa ter de grandioso! - não se coaduna com a perfídia intriguista que grassa no maior partido da oposição ...

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