A minha desafeição de Deus ocorreu tão cedo, que nem a primeira comunhão fiz, apesar de, regularmente, acompanhar a família ao deprimente espetáculo da fé interesseira em torno da Senhora de Fátima. Quantas vezes ouvi o discurso de lá ir para que a saúde melhorasse ou um sobrinho passasse sem mazelas pela guerra em África? Quem lá se deslocava - e presumo que quem o continua a fazer - não pede aos transcendentes poderes, que o mundo melhore, se torne mais justo. Olha para o umbigo e, em função dele, acende velas ou repete preces.
Vem isto a propósito do confirmado desenlace da tragédia de Málaga. Ao fim de treze esforçados dias os mineiros e os bombeiros resgataram o corpo sem vida da criança de dois anos, que caíra num profundo poço. E perante os que se continuam a dizer crentes num qualquer deus monoteísta - católico, protestante, muçulmano, judeu ou qualquer outro! - importa colocar a pergunta: não é esse deus omnipotente, omnipresente e onisciente? Não tem poderes ilimitados, não está em todo o lado e de tudo sabe? Como poderia tal entidade, se acaso existisse, conformar-se com o triste fim de uma inocente criatura, que deveria merecer-lhe acrescida proteção?
Não careço destas perguntas para me afirmar ateu. Negar a existência de Deus é facílimo se nos situarmos numa lógica científica, racional. Mas, acaso viesse a depreender quanto ao meu erro, só poderia considerar que esse deus não é de confiança, mente, incita à violência, arrecada riqueza, discrimina uns povos em detrimento de outros, entre outras patifarias, como no-lo apresentou Saramago, que concluía: "Deus rancoroso, vingativo e má pessoa".
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