A ocupação do Palácio do Planalto pelo jagunço começa agora, e a atenção sobre a evolução da política brasileira, e sobretudo da sua vertente económica, será matéria de análise quase diária por tomar a proporção de estudo de caso, como o já são a de Trump na Casa Branca, a de Orban no Sandor Palace ou a de Erdogan no Cumhurbaşkanlığı Külliyesi. Porque de todos eles se espera a confirmação da desadequação dos ideários de extrema-direita com os condicionalismos de uma sociedade contraditória, mais tarde ou mais cedo «condenada» a reagir e a ensaiar rumos opostos. Pena que as esquerdas continuem sem adotar discursos convincentes quanto às esperadas propostas de quem almeja paraísos e encontra diariamente os mesmos infernos. Depressa descoroçoados com o agravamento da sua miséria, muitos dos que foram ao engano pela retórica anti-PT, só esperam que os vituperados de ontem encontrem o tom certo para se virarem na sua direção. E, quer o movimento sindical, que contribuiu para a queda da ditadura militar, quer o mais recente movimento social antiaumento das tarifas de transportes (já em si decerto fomentado pela conspiração que viria a precipitar a queda em desgraça de Dilma e de Lula), prenunciam o inevitável ricochete.
Há evidente inexperiência nos ministros, que servirão de corte mais próxima ao biltre, e choque de posições por representarem interesses de impossível convergência. Relativamente a Israel, a quem se prometeu a mudança da embaixada para Jerusalém, já se agitam os lobistas dos exportadores de carne, receosos de verem fechado o importante mercado constituído pelos países árabes. Idêntico o receio dos que não querem que a China seja hostilizada em proveito do alinhamento com a agenda comercial norte-americana. E estes focos de resistência surgem quando o jagunço ainda nem sequer tomou posse. Os tempos próximos prometem ser interessantes.
Colateralmente não encontro razões de Estado, que justifiquem a passeata de Marcelo ao Brasil, a menos que sinta saudades do tempo em que as viagens além-Atlântico se fundamentavam nos convívios amistosos com Ricardo Salgado. E quanto à escolha dos pseudojornalistas da RTP para personalidade do ano só demonstra o tipo de gente, que ali ainda se acoita!
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