sábado, 1 de dezembro de 2018

As lutas do momento: umas são injustificadas, as outras não!


Das lutas sociais, que têm estado nas notícias dos últimos dias, avultam duas particularmente repelentes por demonstrarem o modus operandi das direitas, que não enjeitam o recurso a organizações ditas sindicais para concretizarem os objetivos de porem em causa o governo da atual maioria parlamentar.
No caso dos juízes causa perplexidade, que aspirem a melhor remuneração, quando já ganham mais do que os seus colegas franceses, belgas, luxemburgueses, finlandeses, suecos, noruegueses, suíços ou alemães. Tendo em conta a regularidade com que só revelam vontade reivindicativa, quando são os socialistas no governo, a sua luta - e absurda greve, inaceitável num órgão, que pretende ser reconhecido como de soberania! - assume contornos políticos óbvios, replicando as intenções dos seus émulos brasileiros, sem cuja cumplicidade teria sido bem mais complicada a atual ascensão fascista.
No caso dos enfermeiros chega-se ao ponto de pôr em perigo a saúde de muitos portugueses, cujas operações têm de ser adiadas por intervenção terrorista dos piquetes de greve. E, no entanto, é sabido que os enfermeiros do Serviço Nacional de Saúde usufruem de direitos e pagamentos superiores aos dos seus colegas dos hospitais e clínicas privadas sem que os mesmos sindicatos mostrem o mesmo zelo em reivindicarem a melhoria das suas condições de trabalho.
Se, como muitos suspeitam, o interesse dos grevistas seria o de transferirem para os hospitais privados as cirurgias inviabilizadas no serviço público, a ministra da Saúde tratou de lhes trocar as voltas, mandando remarcar as que não puderam ser concretizadas. Mas presume-se que, salvo se houver um levantamento coletivo contra estas manobras, os figurões prosseguirão impunes na estratégia de acabarem com o SNS para benefício dos que defendem o velho princípio, enunciado por um deputado do CDS na Assembleia da República, que quem quiser saúde tem de a pagar.
Em contraponto estes dias têm sido, igualmente, eloquentes em exemplos da desigualdade de meios de quem trabalha contra a atitude prepotente dos patrões, que se julgam imunes ao respeito pelas leis da República e revelam a mais sombria faceta da sempiterna luta de classes: em Setúbal, e apostando nas consequências para a economia nacional, os administradores da empresa turca de estiva insiste em não finalizar o acordo com as mais do que justas pretensões dos seus precários colaboradores. Em Santa Maria da Feira a Corticeira Fernando Couto prossegue  a reiterada pressão sobre Cristina Sampaio, uma trabalhadora cuja vida se infernizou, quando rejeitou a injustificada decisão da empresa em extinguir o seu posto de trabalho. Apesar de já multada em 31 mil euros pela conduta indigna, a empresa reitera-a sem que a Democracia faça vingar os seus valores dentro do perímetro da fábrica.

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