Através da sua habitual mediadora de mensagens no «Expresso» (Ângela Silva), Marcelo Rebelo de Sousa lamentou-se de não vir a ter tanto sossego quanto esperaria de um ano eleitoral como o de 2019, quando a assertividade do governo para com as exigências corporativas tenderia a ser maior. Como sempre Marcelo quer aparentar dizer uma coisa, mas significar realmente outra. Hábil no exercício de manipulação das mentes alheias, ele está a confirmar o que as esquerdas podem dele esperar: um intervencionismo político constante para dificultar tanto quanto possível a maioria absoluta do PS e, ainda de acréscimo dificultar uma maioria de esquerda. O que ele quis dizer foi precisamente isso: um presidente da República costuma adotar um justificado low profil nos anos eleitorais, mas avisa, desde já, não estar disposto a fazê-lo.
E, de facto, como poderia Marcelo deixar de ser Marcelo se não vê óbice em acusar os partidos por estarem demasiado precocemente em campanha eleitoral, apesar de, desde o primeiro dia em que tomou posse ele nunca ter feito outra coisa?
De hoje, há também a referir o artigo de Rui Tavares no «Público» em que o historiador dá-nos a conhecer uma Lei, dita de Sayre, segundo a qual “em qualquer debate a intensidade dos sentimentos é inversamente proporcional à relevância dos valores em causa”. Por isso mesmo, se nos dermos ao trabalho de folhearmos jornais com dois ou três meses de atraso, constataremos facilmente quão irrelevantes se tornaram questões nessa altura tidas como de grande impacto emocional no imaginário coletivo dos seus leitores. Com Marcelo acontece muito isso: nada de importante resulta da sua multiplicação de selfies e de abraços, nada o país ou os seus cidadãos ganham com essa permanente gestão de imagem de um presidente, que se quer fazer passar por simpático ou inteligente, e esconde na sua mente a perfídia com que ajusta as suas estratégias de acordo com a fria análise dos seus objetivos. Que são evidentes, quando ele lamenta que o orçamento não tivesse contemplado reduções de impostos para os patrões ou ameaçado vetar a Lei de Bases da Saúde se não vier a contemporizar com os lautos negócios dos interesses privados. Mas tudo aponta para que, multiplicando-se em intervenções sibilinas, Marcelo continue a enganar os tolos com substitutos das papas e bolos.
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