sábado, 22 de dezembro de 2018

O patético papão da Casa Branca


Há quem veja nos mais recentes acontecimentos em torno da Administração de Trump inquietantes sinais de alarme pelo que de imprevisível pode significar deixá-la em roda livre ao sabor da famosa «intuição» do seu titular. Alguns, mais timoratos, até já o imaginam a carregar no célebre botão e a espalhar o apocalipse nuclear por todo o planeta.
Visão mais realista prognosticará o princípio do fim do tipo de populismo por ele representado. Paralisar o governo federal a pretexto de lhe não satisfazerem a birra de construir um muro na fronteira com o México, criará um tipo de caos, que se estenderá a todos os Estados, quer os litorais, mais afetos aos democratas, quer aos do interior, quase inteiramente dominados pelos republicanos. Fica a questão de saber quem terá a perder com tais consequências? Os democratas, que, em breve, passarão a dominar o Congresso, estão confiantes na negação às pretensões de Trump e as sondagens parecem dar-lhes razão. Os republicanos dividem-se: os mais radicais querem forçar uma aprovação orçamental para a qual não têm suficiente apoio em qualquer das duas câmaras, enquanto os demais receiam que o chão lhes escape debaixo dos pés. Não é difícil perceber que o jogo de forças tenderá a quebrar pelo seu lado.
Já a demissão do Secretário da Defesa, Jim Mattis, enfraquece significativamente a NATO cujos membros deparam-se com a quebra de confiança na superpotência que os tutelava. Para quem defende o fim da organização - porventura substituindo-a por uma outra, apenas cingida aos países europeus, que a ela queiram aderir! -, a notícia é animadora. Como o é para Putin, que vê menos perigado o ininterrupto assalto à fortaleza russa, tal qual se vinha repetindo desde a queda do Muro de Berlim. Os filonazis ucranianos, que se cuidem!
Pode-se lamentar a desdita dos curdos (mas não seria de admirar que viessem, em breve, a negociar a paz com Bashar al Assad, em troca do reconhecimento da sua autonomia regional!) ou dos afegãos, devolvidos ao fanatismo dos talibãs. Mas as consequências para o próprio Trump prometem vir a ser drásticas: cientes de ele lhes trazer um ónus demasiado arriscado, fazendo-os perder muito mais do que com ele julgaram ganhar, serão os republicanos a, intimamente, desejarem a impugnação, esperançados em que uma breve Administração Pence os ajude a colar os cacos para trás deixados pelo antecessor.
Daqui a um ano, quando se proceder ao balanço dos acontecimentos dos doze meses anteriores, será bem possível que Trump seja notícia por ter sido o primeiro presidente, desde 1868, a perder o cargo num processo de impeachment.

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