terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Conspirações e chantagens


Desacreditam os espanhóis da existência de bruxas, para logo concluírem que «las hay, hay». Ora, na entrevista à TVI, Armando Vara deu uma explicação bastante consistente para o afã com que foi perseguido pelo juiz Carlos Alexandre, esforço que o mesmo nunca demonstrou com as mais do que suspeitas falcatruas à direita, arquivadas com o seu beneplácito.
É a tese da cabala, proclama Martim Silva no «Expresso», como se ela fosse algo de irreal, só percetível para quem dela se proclama vítima. O que me fez evocar um filme de há vinte anos, em que Mel Gibson vivia obcecado com uma conspiração a que só a Julia Roberts acabava por dar justificado crédito. É que o herói da direita, que até gostaria de o ver promovido a exemplo do outro traste brasileiro, já deu ensejo a que dele, no mínimo, desconfiemos, e não apenas por auferir empréstimos avultados de um criminoso já com a sentença confirmada pela Justiça.
Tudo em Alexandre é mau, desde a sua proclamada origem humilde (não foi esse o reiterado orgulho dos que a História reteve como os mais criminosos fascistas, desde Mussolini a Hitler, de Franco a Salazar?) até à mesquinhez de tudo quanto nas entrevistas acrescentou como fundamento do seu ser. Daí que fosse interessante averiguar o que pretenderia, quando tudo terá feito para apossar-se do cargo de chefe da espionagem nacional? Quem quereria investigar? E ao serviço de quem?
Falando de gente preconceituosa vale a pena determo-nos na entrevista ao «i» da bastonária dos enfermeiros, que diz ser a classe um alvo desse tipo de crítica atitude. Equívoco da odiosa criatura: os portugueses não sentem preconceito contra os enfermeiros, cujo empenho e competência elogiam, quando os sentem a comportarem-se de acordo com o código deontológico. Agora, que tudo fazem para destruir o Serviço Nacional de Saúde, pondo em risco a vida de tantos doentes, a palavra certa para definir esse sentimento nacional é a de repulsa. Porque, como diz Cipriano Justo nas redes sociais, o que está em causa não é uma greve, mas uma chantagem.
Há, porém, uma razão acrescida para que a bastonária e os selvagens vestidos de sindicalistas tenham optado por tão violenta forma de luta nesta altura: é que a nova ministra da Saúde, Marta Temido, já providenciou alterações à proposta de Lei de Bases que a lobista Maria de Belém lhe entregara, restringindo a continuidade do esbulho que os grupos privados têm imposto ao serviço público. Como conclui o nosso leitor Vítor Pereira: “é manifesta a antipatia crescente da maioria dos portugueses por certas classes profissionais, porque o Estado é o garante da proteção dos cidadãos, logo, quem debilita o Estado, debilita os cidadãos.”

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