terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Sobre a inexistência de dodós na economia nacional


Era uma vez uma economia recheada de génios, que abrilhantavam as capas das revistas da especialidade, e prometiam levar o país ao pelotão da frente dos mais prósperos. Como poderia não ser se alguns dos crânios eram tidos como invejados lá fora por tanta sapiência e, num dos casos, até se autoelogiava como tendo o toque de Midas, mesmo com a bancarrota à porta.
Nessa economia quem mandava nos bancos, nas telecomunicações ou nas cimenteiras eram alguns desses empresários lusos, que não desdenhavam em aparecer nas revistas sociais para que todos soubessem como tinham festas lindas, mulheres sofisticadas, vivendas de sonho e férias como mais ninguém.
A ganância falou mais alto, como sempre sucede nestas ocasiões. E os ódios também. Uns com os outros conspiraram e a digladiaram-se naquilo que, numa crónica no «Jornal de Notícias», Mariana Mortágua apelidou de autêntica guerra dos tronos. Fizeram-se e desfizeram-se OPAs, deram-se créditos absurdos a putativos aliados para que, em cada batalha, soubessem por quem terçar armas, e foi assim que, uma a uma, todas as grandes empresas nacionais caíram em mãos estrangeiras, acabando de vez com as ilusões dos crédulos na existência duma réplica do dodó: o empresário patriota, cioso dos interesses nacionais.
Nesta altura muito do crédito malparado decorre dessa deriva capitalista, que teve no cavaquismo o seu mais relevante expoente. Mas continuam a sobreviver muitos simpatizantes das direitas, que nada aprenderam com o curso acelerado de política económica, facultado nos trinta anos subsequentes à entrada na CEE. São tolos ou inocentes - é escolher qual a que melhor se lhes ajusta a cada caso! - que ainda apostam em conceitos repetidamente desmascarados como absurdos ao longo desse período. Mas podemo-nos admirar, quando parecem cada vez mais os que julgam possível retroceder cem anos e repetir as receitas de Sidónio Pais ou de Mussolini? A estupidez humana é uma realidade cuja ampla dimensão não cessa de nos surpreender.

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