Teresa de Sousa é uma das encartadas comentadoras da nossa praça para possibilitar o entendimento do que se passa na realidade europeia. A sua perspetiva é formatada de acordo com um cânone, que o último ano fez falir, mas vemo-la incapaz de pensar além da caixa, fazendo com que os seus textos, mesmo que não enfadonhos - porque o métier está lá! -, nada de novo nos dizem. Por exemplo no de hoje, no «Público», a síntese está no derradeiro parágrafo, que conclui as elucubrações, ampliadas por duas páginas: “Órfã da América, com a crescente pressão militar da Rússia junto à sua fronteira leste e a capacidade de desestabilização de Moscovo em demasiados países, sem uma liderança forte e uma visão estratégica, a Europa continuará no próximo ano vulnerável aos ventos internacionais e às debilidades das suas democracias.”
Não arriscando muito no zandingar é possível irmos mais longe e prognosticar que, apesar de ser sujeita a grandes sobressaltos - um brexit sem acordo, um parlamento europeu com um forte grupo de deputados de extrema-direita e a recuperação russa de algum ascendente nalguns dos países, outrora situados na sua órbita - a União Europeia resistirá e, talvez nos banhos de realidade experimentados por quantos têm apostado na sua desagregação (vide a rendição italiana aos ditames de Bruxelas relativamente ao seu orçamento!), dê ensejo para alternativas como a recentemente proposta por Piketty nas páginas do «The Guardian» e do «Le Monde».
É certo que o provável sucessor de Junker não se revelará mais hábil do que ele a resolver os grandes problemas de uma organização demasiado centralizadora, e que criou compreensíveis ódios devidos às mordomias atribuídas aos seus burocratas. Mas o horror ao vazio tenderá a fazer o seu caminho e até os mais reticentes soberanistas acabarão por se renderem à impossibilidade de se bastarem a si mesmos num mundo globalizado. O papão Bannon é uma espécie de tigre de papel, que sugere muito mais poder de fogo do que tem ao seu alcance com a dinamite de que, de facto, dispõe. Tanto mais que tudo aponta para uma abrupta queda da economia britânica nos meses subsequentes aos do sucesso estratégico dos seus sinistros estarolas (Farage, Johnson)., que irá servir de exemplo aos que lhes quereriam seguir as pisadas. Será só questão dos europeístas explorarem enfaticamente a tendência desse tipo de niilistas darem à sola, quando se põe em causa a recuperação dos danos, que têm sabido causar. E para os quais continuam a não ter qualquer solução.
Daqui a um ano, e depois dos piores cenários terem parecido tão próximos, é muito provável que o ideal europeu chegue a mitigada, mas consistente convalescença, e os xenófobos se apressem a anular-se entre si, tão contraditórios se revelarão os seus propósitos com o estado terminal de uma forma de capitalismo, ela sim responsável pela conjuntura que arregimenta os protestos inorgânicos dos que querem outro futuro e estão totalmente perdidos no rumo quanto à forma de lá chegarem...
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