A discussão do Orçamento Geral do Estado para 2018 voltou a mostrar a maioria parlamentar a funcionar como gostamos de a ver agir: sem omitir as diferenças de pontos de vista, mas travando qualquer veleidade das direitas quanto a verem enfraquecido um governo ainda afetado pelos efeitos das tragédias dos últimos meses.
O que mais enervou essas direitas foi a confiança de todos os membros do governo ao explicarem as políticas com que se estão a comprometer e cujos efeitos na qualidade de vida das populações prometem consolidar o que os indicadores de todas as instituições nacionais e internacionais vão confirmando semana após semana: tanto no desemprego como no crescimento, nas exportações como na redução da dívida, as esquerdas vêm denotando uma competência, que as direitas não imaginariam possível. Até porque mantêm-se presas ao guião dos tempos da troika, como se fosse bíblia cujo não acatamento constitui uma heresia. Por isso nem querem ouvir falar de outros cânones alternativos. “Sim, fizemos muito e diferente. Afinal, era possível”, vincou o ministro das Finanças.
As reações mais destemperadas aconteceram quando era o ministro Vieira da Silva a assumir a palavra e a nela incluir a evocação dos 600 milhões de euros, que o governo anterior contava rapinar aos pensionistas e reformados. Pertinente, o deputado bloquista José Soeiro aventou como explicação para o destempero das reações das direitas, o terem acabado de vir do almoço. E, de facto, por muito que o presidente em exercício da Assembleia, Matos Rosa (PSD) não tenha achado graça à sugestão, que outra razão poderia explicar a histeria de Hugo Soares ou a indignação de Cecília Meireles? É que, por muito que lhes custasse, existem documentos elucidativos quanto à crença das direitas nos “cortes virtuosos na tal peste grisalha acostumada a viver muito acima das suas necessidades.”
Seria muito bom que as esquerdas soubessem acautelar para o futuro a cumplicidade, que foi agora possível detetar entre as suas diversas bancadas.
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