Um ano passado sobre a eleição de Trump, o que mais me dececiona é a incapacidade do Partido Democrata em retirar lições da derrota e tardar na preparação da alternativa vencedora nas eleições de 2020. E o livro de Hillary Clinton recém-publicado só confirma que quem a quis impor como vencedora das primárias, quando Bernie Sanders tinha melhores condições para se opor a Trump, é quem maior dificuldade terá em aceitar a evidência da sua responsabilidade na derrota.
Não será pela reiterada sucessão de aleivosias do bufão de cabelo alaranjado, que se garantirá o sucesso da decência e de alguma preocupação social contra os contornos criminosos dos que cavalgaram no tea party e intentam transformar o Partido Republicano no dos suprematistas brancos do KKK. Mas também está a faltar aos democratas a argumentação mais apreciada pelo eleitorado: o agravamento dos indicadores de crescimento da economia e do desemprego, que ainda persistem animadores muito por culpa das políticas de Obama. Se Trump consegue mostrar algum sucesso do seu primeiro ano de governo, fá-lo à conta da dinâmica vinda de trás e que dá já sinais de começar a perder gás.
Só quando os desempregados dos Estados do rust belt se convencerem de terem sido os tolos a quem se estenderam bandejas de bolos, e os efeitos do isolacionismo - que nenhum voluntarismo protecionista conseguirá compensar -, confirmarem que os salários deixaram de conhecer atualizações, arrefecendo toda a atividade baseada no consumo interno em queda é que será crível que os democratas consigam ganhar algum juízo. Porque, como sabemos, a hipótese de ganhar eleições tende a aproximar quem, no mesmo campo, se vai entretendo com querelas fratricidas.
Por ora vamos assistindo ao triste espetáculo de Trump a passear-se por sítios onde o tratam como o tolinho, que saiu do manicómio para surpreender com disparates, que nem os mais hábeis assessores conseguem evitar. Visitar o Japão ou a Coreia do Sul instando-os a comprar armamento norte-americano se se querem sentir seguros contra as bravatas de Kim Jong-un, porque não se lhes continuarão a aceitar excedentes na balança comercial com o Tio Sam, constitui uma ameaça óbvia, que a sensibilidade asiática registará sem aparente crispação, mas que poderá ser sentida como um ultraje. E que esperar do momento palpitante em que, no Vietname, Trump ficará entalado entre Putin e Xi Jinping? Será capaz de se julgar o pistoleiro mais forte, por ter as armas mais sofisticadas, ou terá consciência que, no momento de as utilizar, contará bem mais a inteligência dos que se lhe opõem e compreendem onde mais lestamente o atingir?
Após um ano de Trump não nos chegámos a assustar tanto quanto tememos, porque tem na retaguarda quem lhe pisa os calos sempre que põe o pé na argola. Mas que ficaremos aliviados, quando ele sair de cena, ninguém duvide...
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