sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Mas alguém anda a dizer que a dívida não é para pagar?

Há já alguma semanas que Jaime Santos não fazia um dos seus frequentes comentários críticos a textos publicados no blogue, mas desta vez fá-lo a respeito daquele em que se comentava a entrevista a Mariana Mortágua ao «Público» e à Rádio Renascença.
O que o nosso atento leitor contesta é a questão da dívida, causa primeira do freio ao crescimento da economia cujo potencial poderia ir muito além do atual:
“Existe uma contradição insanável nas soluções propostas pelos Partidos à Esquerda do PS. Não existe nenhuma obrigação moral de pagar a dívida, o preço do dinheiro (taxa de juro) inclui justamente o risco de incumprimento. Mas BE e PCP-PEV defendem políticas keynesianas (que o próprio Keynes provavelmente rejeitaria) expansionistas, só possíveis à conta de maior endividamento. A quem? Àqueles a quem vamos dizer que não pagaremos as dívidas? O custo reputacional de um incumprimento não é calculável. Os Partidos de Esquerda recusam-se a aceitar que nesta matéria a moral conta pouco. Não interessa muito em que condições o País se endividou e qual a responsabilidade dos credores em tal coisa (que a têm certamente). Interessa o facto de que o País está, nesta matéria, do lado fraco da corda. É tão simples quanto isso. Se quisermos entrar em incumprimento, ficaremos durante vários anos sem acesso aos mercados e ninguém virá cá com nenhum programa de ajustamento. Ficaremos, qual Argentina, sozinhos com os nossos parcos recursos. Se o objetivo é gerar daqui uma crise e mudar o paradigma de governação, bem esses Partidos que assumam isso claramente. Se é melhorar as condições de vida dos Portugueses, o caminho não é esse…”
 Não contestando propriamente a perspetiva de Jaime Santos - que é apenas uma das possíveis! -, queria, porém lembrar-lhe que a contestação à forma como a dívida deverá ser tratada não é apenas algo que seja assumido por políticos do PCP ou do Bloco de Esquerda. Até à direita, mormente com Pacheco Pereira, essa renegociação da dívida é tida como plenamente justificável por ser a única  capaz de garantir alguma solução para os bloqueios de que o país se vê alvo.
Por outro lado não é verdadeira a ideia de não se pretender pagar o que se deve. Quer-se sim o aligeiramento do custo da dispendiosa dívida, com parte substantiva dos juros pagos anualmente a serem aplicados em investimentos públicos estudados para possibilitarem uma mais firme alavancagem da economia. Estaria, pois em causa algo de perfeitamente legítimo de renegociar como a alteração de outras maturidades, tornando-as mais benignas para com as atuais necessidades do país.
Nesta, como noutras matérias, subsiste a estratégia das direitas de atribuirem às esquerdas (noutra vertente, também aos sindicatos), posições muito mais radicais do que as que lhe são reconhecidas, a fim de as desqualificar, as considerar utópicas e nada realistas.

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