Por estes dias é possível descortinar dois tipos de estratégias assumidas pelas direitas para porem em causa a boa governação de António Costa. Uma delas tem a ver com atribuírem-lhe responsabilidades exclusivas em ocorrências no mínimo partilháveis com os anteriores titulares do cargo.
Começou com os incêndios suscitados por anos de desertificação do interior e por uma meteorologia de características peculiares. Se atribuir culpas a António Costa por esta última é absurdo, pela referida concentração das atividades económicas no litoral atlântico muito contribuiu a miopia cavaquista, que esteve subjacente à forma como se entendeu o país desde que tal criatura tomou conta do poder já lá vão trinta anos. Se a sua lógica funciona numa perspetiva totalmente economicista nada justifica o investimento no interior a menos que o Estado decida tornar-se ator determinante no desenvolvimento do país. Ora, os incêndios mais não foram do que o corolário óbvio de políticas ditadas pelas regras do endeusado mercado e pela redução ao mínimo desse mesmo Estado na economia.
Depois foram episódios como o de Tancos ou o da legionella, que resultam dessa mesma perspetiva: quando o primado dos outsourcings se sobrepõe aos das instituições, que os são obrigados a contratar tendo como argumento a redução dos custos, é essa mesma perspetiva neoliberal, que fica posta em causa e a que este Governo é avesso.
E que dizer do caso do jantar no Panteão senão como exemplo dessa idiossincrasia (ou idiotia) em que se cortam fundos para a Cultura e se os tenta compensar com a concessão de espaços para eventos onde eles não têm qualquer cabimento?
Não tendo nada a propor de substantivo, as direitas optam por pegar em tudo quanto possa haver de mais equívoco no realizado pelo governo e dizem mal, mesmo que correspondam ao que elas própria aprovou, legislou e começou a implementar enquanto ainda eram (des)governo.
Mas há uma segunda estratégia, que começa a ensaiar-se a ganhar corpo por estes dias: a arrogância de quem é anão, mas se julga com altura de gigante. Peguemos no exemplo de Assunção Cristas, que promete ir escrever uma carta para ser distribuída a todos os portugueses contendo as banalidades, que eles costumam desprezar ao fazerem o devido zapping quando ela lhes surge nos ecrãs. Sendo eu um dos putativos recetores de tal missiva, quem se julga Cristas que é para me julgar ansioso por uma carta dela? Se quiser ter alguma consciência ecológica bem pode começar a poupar no papel.
Mas este exemplo faz escola, porque uma das discípulas levadas pelo teapartyano David Dinis para o «Público» assina hoje uma crónica em que exige que, como «portuguesa e como contribuinte» (o que desde Paulo Portas esta palavra tem servido de alibi para todas as demagogias!) o governo lhe explique porque pretende ver Mário Centeno à frente do Eurogrupo. Quem é esta pispineta para julgar que tal resposta lhe tem de ser dada?
Embora constituindo táticas sem grande capacidade de causarem dano, elas - e outras a que convirá darmos atenção e encontrar o correspondente antídoto - são venenozinhos ignóbeis em cuja evidência valerá atentar.
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