Os cientistas ainda não terão concluído isso, mas estou cá para lhes dar uma ajuda: um dos mais inesperados efeitos do aquecimento global e do estender do verão por este outono sem chuva adentro, tem sido a manifestação quase quotidiana do que dantes associávamos a comportamentos típicos da silly season.
Recordemos ao que estávamos habituados: em tempos idos, menos condicionados pelos humores meteorológicos, chegava-se ao verão, a política metia férias e as capas das revistas mostravam mamocas e escarrapachavam grandes títulos sobre sexo. Mas, porque o tema não conseguia ser assim tão elástico, complementavam-se as reportagens sobre os gigolos algarvios ou as alternadeiras de Trás-os-Montes com aquele tipo de curiosidades, que justificam anualmente os IgNobeis: as razões, que possam justificar a aversão dos pombos por uma determinada estátua no Japão, a explicação porque os estudantes de humanísticas não gostam de couves de bruxelas, a relação da música country com as taxas de suicídio e outras parvoíces do género.
É claro que a bancada do PPD/PSD ajuda muito ao prolongamento da estação das tontices: ter uma das suas estrelas a afiançar da proibição da legionella só nos pode suscitar a gargalhada por muito que nos mereçam consideração os que morreram ou ainda estão hospitalizados por causa da malfadada bactéria. Mas pior ainda é o seu líder parlamentar, que nos faz sempre lembrar aquela tese freudiana em como detestamos sempre no outro, o que mais odiamos em nós: são tantas as vezes em que diz valerem zero os ministros socialistas (incluindo o primeiro), que denota ali a urgência em ser consultado por competente psicanalista. O rapaz tem sérios problemas de autoestima e necessita de um sem fim de sessões para ver se ganha por si mesmo alguma capacidade de concluir por um méritozinho, mesmo que ínfimo, escondido lá nos esconsos do seu limitado cérebrozinho. Muito embora desconfiemos estar ali mais um exemplo do que Robert Musil definiu como o típico homem sem qualidades.
Mas nem sequer Marcelo escapa às tontices inerentes a esta atmosfera estranha: não lembraria a ninguém, que nos quisesse vir impor a Maria Cavaca como madrinha. Uma ideia dessas não nos faz rir, nem sequer sorrir: é de arrepiar tão halloweenesca nos parece a criatura. Não tanto como representação da Bruxa Má do ocidente, nem como Rainha de Copas, mas assim mais do género de uma coisa abstrusa relacionada com Presépios - uma espécie de personagem dos filmes do Mario Bava ou do Dario Argento, mas sem ponta de sensualidade.
É nesta envolvente alucinada, que veio à baila a estória do Panteão com os vilões a quererem sacudir a capa da responsabilidade de terem querido transformar a memória nacional em local para a organização de eventos e até terem criado uma ridícula tabela de preços para o efeito.
Vale-nos a sanidade desta maioria parlamentar - que comemora dois anos de existência - ainda insuficientes para desativar todas as minas e armadilhas deixadas pela pesada herança dos que quiseram-nos convencer de que viveríamos doravante num mundo onde tudo se comercializa, tudo se privatiza.
Esperemos que as chuvas acabem por vir e as patetices laranjas ou do selfieman deem lugar a alguma sensatez.
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