Só os intelectualmente desonestos poderão discordar de ter pertencido a Pedro Nuno Santos o melhor discurso de entre os que se proferiram no último dia de discussão do orçamento para 2018. Com Cristas a escusar-se de ir a jogo, coube a Passos Coelho ficar com o palco da oposição só para si na tentativa de se despedir - esperemos que ad eternum! - da liça parlamentar. Foram minutos demasiado longos para debitar o testamento político, que constitui triste acervo do que significa ser um homem inevitavelmente datado, preso num tempo que julgou ser seu, mas mais não foi do que o da sua interpretação de um desempenho de que foram outros a manipularem-lhe os fios de incompetente marionete.
Esse tempo nem sequer aos titereiros acabou por pertencer por muitos danos, que tenham feito aos bolsos de quase todos: usufruíram de uma oportunidade única para mudarem o rumo do país, e não estiveram longe de o conseguir, mas a derrota de outubro de 2015 deve-lhes ter tirado as ilusões por muito tempo. É que, se ainda têm em seu benefício as leis laborais e as rendas das grandes empresas, que o governo não pôde agora limitar, muito do que eram as suas «reformas» foram pelo cano do esgoto abaixo, e a atual maioria parlamentar demonstrou que resultam outras, as que significam melhores condições de vida para a generalidade da população, em vez dos cortes, das desregulamentações e das privatizações em que assentavam o desígnio de empobrecerem de vez a maioria para que uma minoria plutocrata pudesse florescer.
Ouvidos os discursos de Mariana Mortágua e de João Oliveira há muito neles, que merece reconhecimento de terem razão, mas estamos numa conjuntura em que não são os únicos dela detentores e, provavelmente, o argumento de Carlos César em como se quer ir ao encontro das aspirações por eles formuladas, mas não se pode avançar demasiado depressa sob pena de pôr em causa tudo quanto se conquistou, é capaz de fazer muito maior sentido.
Não enjeito o desconforto com alguns momentos menos bons verificados nas últimas semanas, mormente quanto à forma como se anunciou a transferência do Infarmed ou ter-se desdito segunda-feira o que na sexta-feira anterior era dado como certo, mas a grande questão é esta: confio ou não na lucidez de António Costa para prosseguir neste rumo que ficou tão bem rastreado no discurso de Pedro Nuno Santos? Dois anos depois confio, e mais ainda do que já o afirmava então!
Daí que não dê grande relevância à expressão fechada de Catarina Martins, nem às palavras acusatórias de Mariana Mortágua. Ou ao facto de Jerónimo de Sousa continuar a afiançar que continuam a implementar-se políticas de direita, apenas mitigadas pelas correções conseguidas graças ao PCP e ao PEV. Tais posições decorrem da retórica parlamentar envolvendo partidos, que apoiam, mas não estão no governo. Embora também julgue dispensável a exagerada profissão de fé de Carlos César nos argumentos, que deles se distingue o PS.
Continuo a acreditar e ouço muitos militantes e simpatizantes socialistas defender que, em equipa que vence não se mexe. Razão para que, chegado o fim da legislatura e recomposta a Assembleia após novo escrutínio eleitoral, faça todo o sentido que a maioria parlamentar continue a contar com os seus atuais participantes, haja ou não condições para que um ou mais de entre eles possa saltar do consenso sem prejuízo de uma maioria para governar.
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